A propósito das notas nos exames: a reflexão que se pedia.
Exames: chumbos a matemática descem mas média de português abaixo dos 10 valores
Os testes de Português podiam ser substituídos por uns papeluchos como os do Totobola
Posso ser honesto? Sim? Ainda bem! Então, os alunos já são razoáveis a matemática, mas ainda são maus (vá, mauzinhos) a Português. Huummm, deixem-me lá ver o que se passa...!?! Eu gostava de poder falar também da matemática, mas confesso que a melhor nota que tive a matemática foi um 5 no 6º ano. Mas aí não conta para nada. Presumo que até o Sócrates tenha tido 5 a matemática no 6º ano. Ou mesmo o Jorge Coelho. O Cláudio Ramos teve 3. E só porque escolheu os sapatos da professora para a festa de Natal. Em compensação, recebeu a medalha de ouro (consecutivamente) no salto de cu pá pila. Encorpado à retaguarda. Flick flack, como elas gostam de dizer. Tive também 17 a métodos quantitativos. Mas todos nós sabemos que métodos quantitativos é uma espécie de educação física dos gordos. Serve para levantar a média. Alevantar, se quem me tiver a ler tiver nascido depois de 1990. Tás a ver, sócio? Montado este cenário (atenção, jovens nascidos depois de 1990, não estou a falar da roupa) é difícil para mim perceber o que se passa na matemática. Mas sei somar 1+1. Sem máquina de calcular. Logo, não digiro muito bem as explicações do mono, perdão, da ministra. Então, os chavalecos evoluíram de um ano para o outro 2,1 valores (!, Nuno Crato, atenção à concorrência) apenas porque foram colocados uns testes no sítio do GAVE, e porque houve mais tempo na preparação dos exames (!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!) e porque houve também um «maior alinhamento entre o exame, o programa e o trabalho desenvolvido pelos professores», vulgo: fizemos-lhes a papita toda a ver se isto resulta! Pois, está visto que ainda não é nos próximos anos que amandamos um foguetão para o espaço. Q'sa foda! O que interessa é a mama da UE. Que bem que vamos estar nas reuniões aquando da atribuição dos subsídios.
No Português, a música toca diferente. É mais rouca. Mais sombria. Se os alunos são burrinhos como o Deus me livre, os meus caros colegas sêtores não são diferentes. Aliás, creio, melhor tenho a puta da certeza mais absoluta, que enquanto tivermos analfabetos, iletrados cujo plano mental, por meio de uma operação intelectual, se resume à transcrição para uma folha em branco dos resumos das Edições Sebenta, estamos literalmente e magnanimamente fodidos. Eu sei que é que não fácil e mais o caralho! Dá trabalho, chegar a casa, pousar as tralhas e ter de pensar como planear as aulas (principalmente quando se chega a casa exactamente na hora em que começa o rol de novelas...), fazer uns pwp's, quiçá procurar uns poemas musicados, inovar uma beca e entrar na cabeça dos putos. Sim, porque eles têm cabeça - com massa cinzenta e tudo - e, por incrível que pareça, também sabem responder afirmativamente quando devida e verdadeiramente motivados. Então, vamos lá ver se eu me explico. Os alunos, na verdade, são o receptores de toda a preguiça, aselhice, inépcia, ignorância e má-vontade que reina no sistema de ensino. Sem querer sair da área onde falo relativamente fundamentado, o ciclo vicioso é o seguinte: há os gajos que dizem o que vai ser leccionado; depois há os gajos que publicam as sebentas com os resumos daquilo que vai ser estudado; estes auxiliares lícitos são comprados pelos alunos e pelos professores; os professores mancos de qualquer espírito crítico e agarrados ao conforto da rotina e do seguidismo dão as aulas usando os esquemas das sebentas, com os exemplos das sebentas, com as palavras das sebentas, com as imagens das sebentas; os alunos fartos de ouvir falar no olho vazio do Camões mais as barbas do Adamastor e nas cena de sexo (?) na Ilha dos Amores (ui que delírio, "os alunos é que gostam deste capítulo, ficam todos com aqueles risinhos ihihihihihih, eles gostam mesmo disto... e nós também... eu ainda uso os resumos que me deu a minha orientadora de estágio em 1985...") começam a cagar d'alto para tudo o que lhes é dito. Até porque está tudo nas sebentas... Amigos, basta acender uma pequena luz de fósforo (daquelas inofensivas e efémeras) para se ver a grande massa de sombras que paira sobre o interesse que estas matérias espoletam. Eu bem sei que não é fácil aguentar a estuporada desordem da vida. É a casa, os miúdos, o marido, a mulher, os pais, as compras. É fodido. Dá jeito chegar à aula sem que se tenham perdido umas horas no dia anterior a prepará-la. Dá jeito, gastá-las connosco. O problema é quando isto se torna o dia-a-dia. Pegamos na nossa vida, reduzimo-la a dois ou três tópicos que se equacionam e condensam até transferimos a confusão para o lugar mais recôndito e fundo da nossa significação. Mas ser professor é, imaginem caros colegas, gostar de estudar. Todos os dias. Ler todos os dias. Querer saber todos os dias. Ser professor não pode ser apenas limitarmo-nos a debitar, ano após ano, as mesmas imagens, os mesmos falsos sentires. E a emoção? E os acontecimentos excessivos que provêm das novas experiências? Ainda por cima, sendo Portugal um país de extraordinários escritores (vivos, imaginem! daqueles que podem ser convidados para palestras, daqueles que falam abertamente das suas obras, daqueles que podem questionar a nossa pretensa autoridade enquanto professores... daqueles que nos podem a qualquer momento deixar ficar mal perante os nossos alunos... daqueles que nos podem pôr à prova, daqueles que pelos vistos assustam o rebanho dos mentecaptos licenciados em Português) cujo modo de abordar os temas é muito mais próximo dos nossos alunos. Escritores que praticam as artes sem parcimónia, que falam da vida e de que como nos podemos desembaraçar dela. Escritores que escutam a loucura, a tenebrosa e maravilhosa loucura que parece ser o grande segredo deste milénio. Mas para isto é preciso, imaginem, gostar de se ser professor. É preciso saber ser professor. Então, de português... É preciso saber ler o sopro primordial de cada novo texto. E é isso, meus amigos, que a esmagadora dos professores de português não sabe fazer. E não é por medo. É porque também eles são fruto desse mesmo sistema mecanizado de ensino. Também eles são filhos das mesmas sebentas. Também eles só leram os resumos do Camões, do Eça, do Camilo, do Pessoa... Todos eles estão afogados na história de outros homens, alimentados de textos datados, alimentando-se de séculos obsoletos. Porque a grande maioria é absolutamente incapaz de desfrutar a tormentosa inocência de enfrentar dilacerado o abismo da criação sem a sua protecção divina. As putas das sebentas!
Os testes de Português podiam ser substituídos por uns papeluchos como os do Totobola
Posso ser honesto? Sim? Ainda bem! Então, os alunos já são razoáveis a matemática, mas ainda são maus (vá, mauzinhos) a Português. Huummm, deixem-me lá ver o que se passa...!?! Eu gostava de poder falar também da matemática, mas confesso que a melhor nota que tive a matemática foi um 5 no 6º ano. Mas aí não conta para nada. Presumo que até o Sócrates tenha tido 5 a matemática no 6º ano. Ou mesmo o Jorge Coelho. O Cláudio Ramos teve 3. E só porque escolheu os sapatos da professora para a festa de Natal. Em compensação, recebeu a medalha de ouro (consecutivamente) no salto de cu pá pila. Encorpado à retaguarda. Flick flack, como elas gostam de dizer. Tive também 17 a métodos quantitativos. Mas todos nós sabemos que métodos quantitativos é uma espécie de educação física dos gordos. Serve para levantar a média. Alevantar, se quem me tiver a ler tiver nascido depois de 1990. Tás a ver, sócio? Montado este cenário (atenção, jovens nascidos depois de 1990, não estou a falar da roupa) é difícil para mim perceber o que se passa na matemática. Mas sei somar 1+1. Sem máquina de calcular. Logo, não digiro muito bem as explicações do mono, perdão, da ministra. Então, os chavalecos evoluíram de um ano para o outro 2,1 valores (!, Nuno Crato, atenção à concorrência) apenas porque foram colocados uns testes no sítio do GAVE, e porque houve mais tempo na preparação dos exames (!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!) e porque houve também um «maior alinhamento entre o exame, o programa e o trabalho desenvolvido pelos professores», vulgo: fizemos-lhes a papita toda a ver se isto resulta! Pois, está visto que ainda não é nos próximos anos que amandamos um foguetão para o espaço. Q'sa foda! O que interessa é a mama da UE. Que bem que vamos estar nas reuniões aquando da atribuição dos subsídios.
No Português, a música toca diferente. É mais rouca. Mais sombria. Se os alunos são burrinhos como o Deus me livre, os meus caros colegas sêtores não são diferentes. Aliás, creio, melhor tenho a puta da certeza mais absoluta, que enquanto tivermos analfabetos, iletrados cujo plano mental, por meio de uma operação intelectual, se resume à transcrição para uma folha em branco dos resumos das Edições Sebenta, estamos literalmente e magnanimamente fodidos. Eu sei que é que não fácil e mais o caralho! Dá trabalho, chegar a casa, pousar as tralhas e ter de pensar como planear as aulas (principalmente quando se chega a casa exactamente na hora em que começa o rol de novelas...), fazer uns pwp's, quiçá procurar uns poemas musicados, inovar uma beca e entrar na cabeça dos putos. Sim, porque eles têm cabeça - com massa cinzenta e tudo - e, por incrível que pareça, também sabem responder afirmativamente quando devida e verdadeiramente motivados. Então, vamos lá ver se eu me explico. Os alunos, na verdade, são o receptores de toda a preguiça, aselhice, inépcia, ignorância e má-vontade que reina no sistema de ensino. Sem querer sair da área onde falo relativamente fundamentado, o ciclo vicioso é o seguinte: há os gajos que dizem o que vai ser leccionado; depois há os gajos que publicam as sebentas com os resumos daquilo que vai ser estudado; estes auxiliares lícitos são comprados pelos alunos e pelos professores; os professores mancos de qualquer espírito crítico e agarrados ao conforto da rotina e do seguidismo dão as aulas usando os esquemas das sebentas, com os exemplos das sebentas, com as palavras das sebentas, com as imagens das sebentas; os alunos fartos de ouvir falar no olho vazio do Camões mais as barbas do Adamastor e nas cena de sexo (?) na Ilha dos Amores (ui que delírio, "os alunos é que gostam deste capítulo, ficam todos com aqueles risinhos ihihihihihih, eles gostam mesmo disto... e nós também... eu ainda uso os resumos que me deu a minha orientadora de estágio em 1985...") começam a cagar d'alto para tudo o que lhes é dito. Até porque está tudo nas sebentas... Amigos, basta acender uma pequena luz de fósforo (daquelas inofensivas e efémeras) para se ver a grande massa de sombras que paira sobre o interesse que estas matérias espoletam. Eu bem sei que não é fácil aguentar a estuporada desordem da vida. É a casa, os miúdos, o marido, a mulher, os pais, as compras. É fodido. Dá jeito chegar à aula sem que se tenham perdido umas horas no dia anterior a prepará-la. Dá jeito, gastá-las connosco. O problema é quando isto se torna o dia-a-dia. Pegamos na nossa vida, reduzimo-la a dois ou três tópicos que se equacionam e condensam até transferimos a confusão para o lugar mais recôndito e fundo da nossa significação. Mas ser professor é, imaginem caros colegas, gostar de estudar. Todos os dias. Ler todos os dias. Querer saber todos os dias. Ser professor não pode ser apenas limitarmo-nos a debitar, ano após ano, as mesmas imagens, os mesmos falsos sentires. E a emoção? E os acontecimentos excessivos que provêm das novas experiências? Ainda por cima, sendo Portugal um país de extraordinários escritores (vivos, imaginem! daqueles que podem ser convidados para palestras, daqueles que falam abertamente das suas obras, daqueles que podem questionar a nossa pretensa autoridade enquanto professores... daqueles que nos podem a qualquer momento deixar ficar mal perante os nossos alunos... daqueles que nos podem pôr à prova, daqueles que pelos vistos assustam o rebanho dos mentecaptos licenciados em Português) cujo modo de abordar os temas é muito mais próximo dos nossos alunos. Escritores que praticam as artes sem parcimónia, que falam da vida e de que como nos podemos desembaraçar dela. Escritores que escutam a loucura, a tenebrosa e maravilhosa loucura que parece ser o grande segredo deste milénio. Mas para isto é preciso, imaginem, gostar de se ser professor. É preciso saber ser professor. Então, de português... É preciso saber ler o sopro primordial de cada novo texto. E é isso, meus amigos, que a esmagadora dos professores de português não sabe fazer. E não é por medo. É porque também eles são fruto desse mesmo sistema mecanizado de ensino. Também eles são filhos das mesmas sebentas. Também eles só leram os resumos do Camões, do Eça, do Camilo, do Pessoa... Todos eles estão afogados na história de outros homens, alimentados de textos datados, alimentando-se de séculos obsoletos. Porque a grande maioria é absolutamente incapaz de desfrutar a tormentosa inocência de enfrentar dilacerado o abismo da criação sem a sua protecção divina. As putas das sebentas!
o etc vai ser o presidente da junta!
Este texto lembrou-me Platão e a sua alegoria da caverna...
Dos poucos textos que me lembro das sebentas de filosofia! :p
Os professores de matemática são bons, os de português são fraquinhos, dai os resultados. Pelo menos é isso que o ministério da educação diz.
Cumprimentos
Nunca consegui perceber ( e incomoda-me) essa politica do facilitismo que teima em instalar-se.Outra coisa que me incomoda bastante é essa mania que a grande maioria das pessoas tem de menosprezar o Portugues, uma nota baixa a matematica percebe-se pk e muito dificil, o mesmo nao se aplica ao estudo/ensino da (nossa)lingua. Porque???Nao se devia aplicar a mesma regra?A mesma exigencia quando se fala em estudar???
No fim, notas mais que baixas a todas as disciplinas, porque da mto trabalho estudar e trabalhar para o que quer que seja. Mais ainda a estes novos alunos dotados de um espirito critico admiravel.
No fim, a solucao passa, como diz, por fazer-lhes a papinha toda.
P.S: desculpe o tamanho do comment. E a falta de acentos, mas por ca nao e de todo possivel.
beijos
Dr., primeiramente, parabéns pelo post.
No que ao “milagre da matemática” diz respeito, o que pode dizer-se é que aquele ser messiânico e redentor, quiçá enviado por Pitágoras, chamado Maria de Lurdes Rodrigues, conseguiu transformar, de forma super-hiper-mega-ri-trapaceira, "alunos bestas” em bestiais e matemáticos bestiais (tais como Nuno Crato que, desde logo, se pronunciou contra o facilitismo grotesco da prova) em bestas que podem saber muito de matemática, mas nada de avaliação…
Posto isto, penso que os alunos portugueses terão toda a legitimidade para perguntar: “E os burros somos nós?”
Quanto ao Português, prefiro pronunciar-me posteriormente.