no principio não havia nada. e nada não é verbo.

deus disse então que estava entediado com a sua vida sempre muito igual. para se entreter entre os entretantos, intervalados de sossego poderoso, criou um mundo. no primeiro dia.

ao segundo dia, depois de se manter acossado de nada fazer, e olhando para o espaço tão inóspito que tinha criado, decidiu criar um carro, e para o fazer andar criou o petróleo para circular à sua vontade.

o terceiro dia foi pior que o segundo, fartou-se de andar de carro atirando-o por um desfiladeiro quando se cansou. criou animais para poder ter um jardim zoológico. embora a alegria dos animais soltos pelos campos não o entusiasmasse sorriu. ao fim do dia, cansado, deitou-se e dormiu dois dias seguidos sem acordar ao mais leve soprar de vento.

ao sexto dia criou uma mulher e dormiu com ela. rapidamente se arrependeu e criou um homem para a aturar.
no fim do dia sentou-se numa pedra ao lado do homem que criara e confessara que não tinha mais ideias para a sua criação. adão que não tinha falta de nada, a não ser ambição de poder, decidiu convencer deus a dar-lhe os poderes que ele tinha.

quando acordou ao sétimo dia, deus era homem. doía-lhe as pernas de andar e os braços de trabalhar. pensou que já não tinha poderes para decidir, mas ao ver a mulher ao seu lado, abraçou-se a ela e arrependeu-se de não ter feito mais algumas.

adão, fugiu com os poderes de deus e criou outro mundo onde passou a viver entediado de nada ter para fazer. nunca teve inspiração para criar um mundo perfeito.

deus foi bom o resto da vida como homem e quando morreu, ficou com o lugar à direita de adão.

deus era português.

[manifesto anti-marasmo em português simbólico]

[obrigado ao fontes do ídolo pelo convite]

Fernando Pessoa, autor do O Blog dos 5 Pês