No Tempo dos Dinossauros

Às vezes fico admirado por que se mostram os intelectuais de Braga e Universidade anexa, gente da cultura, apóstolos da História e arqueologia, incomodados pela falta de promoção da tal cidade milenar no seu passado romano, quando já tem cúria e balneário que chegue. Para não falar dos bacanais intraportas e cagadouros como acto social, na faladura, perfumada pelo traque e o cigarro, quedada por ali, em cafés e nas trombas dos empregados d’A Brasileira.
A esta Braga Augusta (no português feito em desacordo ortográfico com o Latim) ainda se somam as procissões de santinhos, as golpadas no senado, a lata, os oradores e os oráculos, a religião como cruz tendeira de todo um patriarcado de visões arrepanhadas e protectora de divindades tão perenes que parece que não morrem. Mais romanos que isto? Que se lixe o montão de pedras debaixo da Estação e das Frigideiras do Cantinho. Braga, meus caros, é nas colinas da cidade e vilarejos em redor, território de Dinossauros.
E qual Estegossauro da Bracalândia, qual quê? Os bracarenses até que não se podem lamentar da perda do seu chamadouro de galegos para Penafiel, quando têm um dos mais completos Parques Jurássicos do País. É aproveitar os dinossauros autóctones, bem alimentados e fazer-lhes cartaz.
Nem é preciso contratar paleontólogos ou criar o curso no campus para desenterrá-los. Eles prosperam nas autarquias: velociráptores, tricerátopos, braquiossauros, carnívoros e herbívoros, grandes e pequenos como as Juntas e do tamanho do seu eleitorado. Um em cada freguesia, caducos e bem acomodados. No domínio, feito cadeia alimentar, encimados pelo T-Rex de toga. Na pirâmide, desde o topo, todos afilhados e perfilhados pelos regedores e outros dinossauros velhos, alguns por enterrar de vez, outros a sofrer da próstata, encostados de qualquer maneira e motivo à bandeira partidária que calhou no PREC, tão tacanha quanto o arcebispado, quem sabe para suavizar o selo de reacção - afinal até é socialista, esta cidade da Esquerda Valha-me Deus.
Na base restam quase todos, mamíferos, pequenos e peludos, tão dependentes que até tremem as patas na hora de ir votar. O Estado social tem este lado perverso no poder local, perpetua o domínio dos répteis, ásperos e velhos, tão fora de tempo e tão viciados em cimento. Braga é afinal, um pantanal como os outros por esse país abaixo. Aguarda-se um meteorito.
Texto de Vitor Pimenta

6 Response to "No Tempo dos Dinossauros"

  1. Unknown says:

    Gostava de ter assinado este texto. Muito bom!

    Incisivo como sempre.
    Bom texto.

    Não é por acaso que o Vítor joga no Avenida Central! Parabéns pelo texto! Ao nível de sempre!

    Parabéns pelo texto. Está excelente.

    Anónimo says:

    Muito bom. É tempo de acabar com os dinossauros em Braga.

    É pena não votares em Braga Vítor...

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