Imagens cor de cinza
Quadros pintados a nostalgia, fotografias cor de cinza que eternizam uma Braga consumida pelo fogo de um pretenso progresso, aniquilador insano de paredes de História, esquinas de identidade, alicerces de idiossincrasia.
“O que fizeram de ti?” Esta é a pergunta ateada pelo meu olhar, quando este repousa sobre as imagens de uma vida soçobrada, perdida entre escombros e muros de betão, que amortalham os pedaços, cada vez mais soltos, de uma existência milenar.
Como seria cruzar a Avenida Central, animada pelo ruído metálico dos eléctricos, do tilintar das campainhas? Qual a sensação de percorrer os trilhos do comboio fumarento, a famosa “chocolateira”, que ligava a Estação ao sopé da montanha verdejante que, ainda hoje, emoldura o Bom Jesus e acalma os olhares sequiosos de vastidão? Que sentimentos traria o percorrer da zona do Carandá, quando era um característico bairro operário, filho da cidade industrial dos finais do século XIX, ou o atravessar do Largo dos Penedos, no tempo em que mantinha o equilíbrio e a genuinidade das fachadas dos séculos XVIII/XIX? Como seria poder vislumbrar a sumptuosidade dos palacetes ao gosto burguês que o “urbanismo moderno” fez sucumbir?
Tão intensa me parece esta Braga desaparecida, somente devolvida pelas cores do carvão… Qual a razão de tão cruel aniquilação? Não teria sido possível evitar tamanho despojo?
Quadros pintados a nostalgia, fotografias cor de cinza… autênticos cais de veludo, que Lhe permitem atravessar a noite do passado sem futuro e atracar no olhar de quem A ama, mesmo não A tendo conhecido... Aos que A conheceram restará um sussurrar de memória pungente: A saudade não quer dizer que estamos longe, mas sim que um dia estivemos perto…
A minha boca aberta ao máximo do espanto!
olha q giro, só agora tive oportunidade de ler o teu post e, apesar de muito mais elaborado no discurso, aproximam-se em termos de conteúdo :)
Joaninha, parece que estamos em sintonia:) Aliás, o pretenso progresso e "desenvolvimento" da nossa cidade sempre nos inquietou. Já nos tempos do secundário falávamos sobre isso...
Dr., este texto provocou-lhe tão grande espanto? Espero ter sido pela positiva :)
Obviamente! Escreves muito bem! Muito bem, mesmo!
Dr., muito obrigada por tamanho obséquio :)