Braga – Uma Aldeia Grande

A conhecida expressão"mais velho que a Sé de Braga" permite-nos identificar os dois principais traços identitários que sobressaem da análise monográfica. a "velha, muito considerada e antiquíssima cidade de Braga" é, primeiro que tudo, representada como uma cidade histórica. a omnipresente vetustez bracarense apresenta-se como o paradigma da antiguidade portuguesa(...) Por outro lado, é uma cidade histórica marcada pela religiosidade desde que em meados do século XI se tornou a terra dos arcebispos, denominados "Senhores de Braga"

Mas a Braga que, nos princípios da última metade do século XIX era uma cidade provinciana, praticamente isolada, sofreu, por essa altura, o abanão do progresso. As estradas que a puseram em contacto com o Alto Minho, o litoral nortenho, as cidades transmontanas e o Porto desenvolveram subitamente o comércio e a indústria, difundindo assim uma nova imagem da cidade que vai ganhando terreno à imagem da cidade histórica e religiosa. Este confronto de imagens é também um confronto entre velhos e novos símbolos em que os primeiros vão perdendo visibilidade em relação aos segundos. A evolução recente de Braga revela, aliás, que não há modernização urbana sem a imposição de novas marcas simbólicas. (...) A Braga moderna, comercial e industrial, é simbolicamente representada pelos têxteis, as confecções e a construção civil (...)e é este crescimento urbano que se constitui como um dos seus traços identitários mais recentes e marcantes.

...uma das imagens mais negativas da cidade resulta deste crescimento urbano recente. Outra imagem negativa da cidade presente nas monografias históricas advém-lhe das características dos seus habitantes, algumas vezes acusados de se consagrarem excessivamente ao luxo e às suas vidas privadas e de não serem coesos nem se identificarem à cidade.

[Carlos Fortuna e Paulo Peixoto]

Este texto acima transcrito mostra-nos a transformação identitária da cidade de Braga, desde a sua antiguidade à sua modernidade.

Contudo, concentrar-me-ei essencialmente na Braga actual.

Na instituição onde estagiei, tinha um terapeuta de Braga que me dizia constantemente: “Braga não é uma cidade, Braga é uma aldeia grande!”

Em parte estou de acordo com ele. Vivi cinco anos em Braga que me foram suficientes para com o meu olhar sociológico observar a estruturação da cidade e os comportamentos sociais dos seus habitantes. Senão vejamos: embora Braga tenha assistido a uma urbanização recente, essa urbanização parece um tanto ao quanto brusca, repentina, sem ordenamento e sem que as pessoas tenham tido tempo para adaptar-se convenientemente à mudança. Muitas pessoas continuam com um modo de vida pouco citadino. Em Braga as pessoas conhecem-se, ainda estabelecem relações de vizinhança e de familiaridade. Observava isso quando passava nas ruas, pelas casas, observava isso nas paragens de autocarro e nas minhas digressões nos próprios autocarros. As pessoas metem conversa nos autocarros, falam de si e das suas vidas, dos momentos agradáveis e desagradáveis. Talvez e parte se deva à religiosidade ainda muito incutida nos habitantes desta cidade, levando a que existam estas relações de proximidade.

Contudo, denote-se que este tipo de comportamentos é quase inexistente em cidades como Lisboa, Porto e outras, onde predominam relações de superficialidade e distanciamento. Braga é, assim, uma cidade acolhedora, agradável de se viver! Poder-se-á dizer que há em Braga uma sociabilidade afinitária/electiva, ou seja, uma sociabilidade voluntária em que as pessoas se relacionam com afinidade.

Não obstante, considero Braga uma cidade de contrastes: por um lado, um grupo com elevado capital económico e capital cultural, por outro lado outro grupo onde ambos os capitais escasseiam. Deparamo-nos ainda com uma população pouco escolarizada e formada, trabalhando no sector primário e secundário, e outra classe emergente a trabalhar nos serviços.

Por um lado, estamos perante uma classe intelectual e mesmo abastada que vivem em casas de luxo. Por outro, Braga é caracterizada por ser uma cidade de ciganos que, não raro, vivem em condições de extrema precariedade e ostracismo, e toxicodependentes em condições de vida também elas precárias e degradantes.

Destacaria ainda o seguinte como acima citado: os bracarenses são algumas vezes acusados de se consagrarem excessivamente ao luxo e às suas vidas privadas e de não serem coesos nem se identificarem à cidade. Vê-se isto em relação à cidade e se calhar em relação ao clube de futebol. Os bracarenses querem ser urbanos à pressa perdendo assim uma espécie de bairrismo que poderia tornar a cidade mais coesa assim como aos seus habitantes.

Gostaria de acrescentar apenas mais um aspecto: Braga parece-me uma cidade sazonal que vive à mercê dos estudantes universitários, ou seja, durante o calendário escolar a cidade vive efervescência e dinamismo nas suas ruas. Pelo contrário, no Verão a cidade sofre um esvaziamento nas ruas, nos bares, no comércio, na cultura. A cidade parece que pára em época estival. Também os seus habitantes vão em direcção a outros destinos.

Por estas e por outras, Braga é uma aldeia grande!


Texto de Helena Antunes.

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