Já ando para falar nisto há algum tempo. Sistematicamente, os siôres agentes da BT, por força de ordens superiores, que cumprem com imperial gozo, assentam arraiais em pontos estratégicos para assim fazerem cumprir a regra n.º 1 do Código da Estrada português - A caça à infracção é sempre precedida pelo imperativo maior da caça à multa.
Neste belíssimo espírito de cooperação cívica entre a administração pública, a "brigada" e nós, assenta a estrutura (menos óbvia e por isso brilhante) de uma taxa escondida. O que se passa hoje em dia é que quem quer andar a acelerar nas estradas, ou a conduzir com uns copitos a mais, não tem nunca de se preocupar em perder a carta, antes deve é ter presente que terá de pagar a taxa correspondente. Ou seja, o intuito das multas em Portugal é original, não se destinam estas a dissuadir os condutores de praticarem actos ilícitos, não, o que as alimenta é uma ideia (como já disse, original) de discriminação social. Senão reparem, quem tem dinheiro, nunca se importará de pagar a "taxa" devida para poder calcorrear esses belos troços nacionais a velocidades proibitivas. Pelo contrário, quem, como eu, não possui idêntica flexibilidade económica, vê-se proibido de gozar as potencialidades do seu bólide.
O que me choca, no entanto, é que estes "cobradores de fraque", disfarçados de agentes, ao actuarem no exercício das suas funções, não tenham o mínimo pejo em demonstrar a arrogância tão característica da administração. Este mimetismo bacoco tem raízes profundas, vem já do tempo do senhor que caiu da cadeira (quando não de uma identidade genética que nos impele ao "respeitinho" patológico) e não aparenta ter fim à vista.

De tudo o que venho de dizer parece que não há nenhuma consequência lógica, senão o meu profundo desprezo por e revolta contra quem actualmente serve nas nossas forças policiais (não renegando a realidade de que haja boas e saudáveis excepções). Contudo, penso que além desse "delito de opinião", o que tento transmitir é uma ideia de civismo completo, não amputado. Numa sociedade desenvolvida não se pode tolerar esta pornográfica caça à multa, muito menos se deve compactuar com atitudes autoritárias (e não de autoridade).
Por isso, o que vos peço, é que, da próxima vez que vos mandarem parar numa qualquer "operação stop" (que nome ridículo), não se apressem, tomem o vosso tempo, arrumem e desarrumem os vossos documentos com a calma que qualquer cidadão de bem se deve dar a si próprio. Não se intimide com o tratamento com que vier a ser brindada(o), os seus direitos sobrepõe-se a qualquer imperativo da BT numa acção de fiscalização. Lembre-se, sobretudo, que é inocente até prova em contrário. Use todos os meios ao seu dispor para provar essa inocência. Não se esqueça que, o mais provável, é ser brindado com um comentário irónico, ou com linguagem corporal que denote uma certa desilusão por parte das autoridades, caso se prove a sua inocência. Não se preocupe, responda na mesma moeda. A ironia e o sarcasmo ainda não são razão bastante para accionar a nobre arte de autuar.
Tenha (mesmo) uma boa viagem!

P.S.: Lembrem-se, se não acatarem os meus conselhos, isto pode-vos acontecer!