o estado da coisa: contributo sério da minha parte, ainda assim sem maiúsculas

a mediocridade recente da nossa política é tão marcante que ressaltou as virtudes da seriedade e da competência, mesmo quando as mesmas são tão exacerbadas que causam cegueira. subitamente, sócrates (a)parece-nos mais íntegro do que nunca e, portanto, como o homem certo para nos tirar da crise. como se de um saca-rolhas se tratasse. sem ofensa. para a rolha, claro. que nesta metáfora é a câncio. que o populismo ofusca o sentido de estado, já todos sabemos. que as tricas pessoais e as querelas partidárias são o grosso das campanhas, e consequentes governações, também é dado adquirido. dir-me-ão as gentes dos sistemas que não há-de ser nada disto, com toda a probabilidade. queremos todos, penso eu, acreditar na boa-vontade de candidatos e respectiva prole. mas os anos vão confirmando o que a desconfiança foi desde cedo avisando: em política importantes são os fins, não os meios. maquiavel está mais actual do que nunca, e os putativos candidatos agradecem. trazendo a prosa para as próximas eleições, e mais concretamente para o círculo eleitoral que me diz respeito, devo dizer que nada mudou também. a haver alguma alteração política, materializada na vitória de ricardo rio sobre mesquita machado, o primeiro beneficia em larga escala do efeito "eu sou o oposto desta palhaçada toda", que MM desastradamente lhe tem oferecido nos últimos anos, mas continuará tão igual a todos os outros que o precederam. mesquita incluído, temo eu. ricardo rio parece que se transformou, para muitos alguns, num herói épico, uma espécie de pelágio intelectualizado que soberanamente irá manter-se à tona do próximo tumulto eleitoral. nestes presságios, como noutros, há uma enorme margem de erro. a mesma que existe numa ideia que teima em me assaltar; um dia desses, mais lá para frente, talvez lhe sejam reconhecidas, a ricardo rio, as mesmíssimas "virtudes políticas" que até agora parecem ser exclusivas do arsenal mesquitiano. e isto é coisa que me cansa, e desgasta. e digo isto porque sofro de uma doença. gosto de me debruçar sobre os papéis que me param na caixa do correio. e leio. o que é dito. prometido. promedito. e gosto também de conhecer as gentes que apoiam os candidatos. as equipas. gosto de ver cv's. saber por onde se movimentam. quem são e o que fazem. em que sítios fazem o que fazem e como é que chegaram aos sítios para poderem fazer o que fazem. e claro que mesmo eu, mergulhado neste escritório, percebo que de um lado e do outro (perdoem-me os meus amigos BE, CDU e MPT, mas acho que anuímos facilmente à ideia de que a coisa é entre PS e PSD) há muitas "semelhanças" e "coincidências" curriculares. braga é um meio pequeno, é certo. mas ainda assim espaçoso o suficiente, a julgar por algumas colocações laborais, para fazer coabitar os dois lados da barricada (ou será barrigada?)! este é um assunto a que volto recorrentemente, por que me perturba. há coisas que não devemos deixar a nenhuma força política, a nenhum partido, o direito de as excrementar. neste caso, é uma questão social tão importante que deve ser despida de toda a coloração partidária. as vestes sectárias emporcalham uma questão que se quer bondosa, fazendo-a tender para uma bipolarização que ela não merece. falo naturalmente da "utilidade" que diversas instituições parecem ver em todo e qualquer membro de listas políticas. e braga não foge, nadinha mesmo, a essa regra. longe de mim vituperar. serão, dentro de determinados e mui secretos cânones, brilhantes nas suas respectivas áreas e absolutamente excepcionais a colocarem a sua essencial nulidade ao serviço das maiorias (des)confortáveis. olha, vituperei! o que der mais jeito na altura. são também melhores do que todos os outros que constantemente pelo caminho se quedam. apesar de haver 500.000 desempregados nenhum deles é candidato a nada. nem faz parte de lista alguma. curioso. será falacioso dizermos então que para arranjar emprego devemos primeiro frequentar o circo, perdão, curso político? estarei a ser demagógico? certamente. mas de mim não se pode esperar reflexão da boa. ainda que, muito honestamente, eu creia que isto é como o alecrim aos molhos, por causa de ti choram os meus olhos: é consoante. claro que esses benefícios de que gozam são ainda assim tão parcos quanto legítimos. jamais, sabemos nós, uma privacidade moral de tão casta e exemplar vetustidade, como são os políticos, se compadeceria com um alargado gosto pelo compadrio. afinal, como todos acreditamos, eles vivem quase de côngruas. e humildemente congruentes, isso sempre. eu, como não comungo, como em casa. às vezes fora. a correr bem onde quero, mas por norma onde posso. um dia, só onde me deixarem. e, agora, fiquei muito triste ao reflectir sobre isto. estou muito triste. mas passa-me. passa-me. mas entristeci.

certo da gratidão que vos há-de inspirar este escrito, despede-se, o sempre vosso
dr. etc.

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