Pessoas que criam a velocidade das coisas

Na Universidade, nunca tive uma relação salutar com os meus professores. As pequenas máscaras, que permitem a concretização do contacto com alimentação do mito em que se (re)vêem alguns desses professores, não se adaptavam aos elementos válidos das minhas feições.

Foram raros os casos em que senti que a pessoa do mestre assumia o espaço central enquanto personagem capaz de sugerir o que na verdade está habilitada a afirmar. Nesse plano, enquadram-se os nomes de Amadeu Torres - meu professor na licenciatura e no mestrado -, Roque de Aguiar Cabral - mestre a quem recorri e que me recebeu com um entusiasmo pouco visto -, Mário Garcia - pela dimensão onírica e centrípeta que as suas palavras adquirem - e Lúcio Craveiro da Silva - de quem apenas colhi já fogachos de uma vida que transcendeu a materialidade dos conceitos -.

Recebi agora uma mensagem a dar contar da morte de Lúcio Craveiro da Silva, SJ. Jesuíta, o padre Lúcio recebeu uma justa homenagem, ainda em vida, ao ver atribuído o seu nome à nossa biblioteca municipal de Braga. Já na Faculdade de Filosofia, essa homenagem havia sido feita.

Não me canso de pessoas assim. Pessoas que esboçam um salto na intenção de formulação de sentidos; pessoas capazes de dizer mais do que a realidade; pessoas cujas palavras nos facultam o contacto com as imagens de perfeição que transcendem as próprias palavras. Os textos e reflexões do padre Lúcio eram assim. Calcinavam-nos, nervo a nervo, até ficarmos límpidos e despojados o mais perto possível da voragem da massa tremenda do excesso de sentido. As palavras do padre Lúcio golpeiam as estrelas e apresentavam-se, ao mesmo tempo, promissoras e incapazes de se concretizar. Pelos menos enquanto que as pessoas que ocupam os espaços deste mundo não conseguirem meter nas palavras e nos actos um coração carregado do símbolo que é o símbolo de todos os símbolos: o amor.

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