conselho que uma vez o chefe silva* me deu: é mais fácil usarmos os olhos dos outros quando queremos ficar tristes. a história do menino Agostinho

Há quem tenha fino gosto. E há os outros, aqueles que humildemente se regalam com a luminosidade dos eleitos. Eu sou um destes últimos exemplares, cada um é para o que nasce, já dizia a Lili Caneças. E eu nasci rude. Primário. Agreste. Campreste. Rural. E vá lá que não sou ceguinho, quando não nem via a luz, em toda a sua harmonia! Ainda assim, sou mimado e acarinhado por uma mãe que conhece todo o tamanho do amor desde do início de todos os tempos. Talvez por isso, eu ache que tenho poucos defeitos. Mas um deles é certamente achar que os meus defeitos são poucos. E, para além de poucos, considero que são assim daqueles que se aceitam com relativa facilidade. Daqueles defeitos que não me impedem de ser convidado para jantares e futeboladas. Daqueles defeitos que podem até ser considerados idiossincrasias de um indivíduo a fugir para o anormal. Peculiar, diria a minha mãe. Entre as minhas virtudes estão os factos de ser um proeminente cidadão ao nível da colecção de cadernetas de futebol. Mas isso é só um facto! Eu sei, eu sei! Era para enganar e parecer melhor pessoa. Voltando às cadernetas, sim? Cadernetas de um tempo ido. Daquelas em que o um gajo não conseguia fazer mais do que uma equipa de 11 se juntasse todos os jogadores sem bigode. Depois, para além disso, leio blogues. Vejo cada vez menos tv. Só futebol e 2/3 programas. Leio poucos jornais. Só blogues. Como desalmadamente. E leio. Muito. Mas leio blogues também. E tenho o defeito de ler os blogues onde participam os meus colegas de tasco. Um deles é o psicolaranja onde podemos ler o João. Então esse blogue vale a pena!?! Mais ou menos, mais ou menos. É como na feira: há de tudo. Até algumas opiniões mais... intestinalmente curiosas. Como esta. Bom, eu sonho muito. Cheguei mesmo à conclusão de que sofro de uma espécie de sonambulismo. Não é como nos filmes em que um gajo se põe a cozinhar e a tomar banho. É uma cena mais moderada: falo. Falo muito. Grito. Rio-me. E não raro acordo cansado, com o coração disparado na garganta. Suo. Muito. E a minha namorada jura que eu já a esganei durante o sono. Tenho muita actividade cerebral. Acordo muitas vezes cansado, com dores no corpo todo e com suores frios. E tenho muitas vezes o mesmo sonho. É mais um pesadelo. Ainda por cima, nesse pesadelo apareço sempre de fato preto e a fumar. Charutos, claro. Que deveria fazer uma EEG e uma TC cerebral, dizem-me. Vou ponderar e depois digo qualquer coisa, até porque isntalei o FM-09 muito recentemente e ainda nem sequer tive tempo de ir minar a o Benfica. Entretanto, tento lidar com este pesadelo que tenho recorrentemente. Se o contasse, dir-me-iam que também já o tiveram. Mas um pesadelo é isso mesmo: algo que nós temos que enfrentar sozinhos, por muito comum que ele seja. O pesadelo. Esta introdução não me saiu nada bem. Estou desiludido. Começo a perder fulgor. Melhor esta entidade falante que se apodera de mim começar a perder a paciência. E a graça. Esta última ideia, mal construída, justifica tudo. Mesmo o facto de eu não saber o que vou escrever a seguir. Sei apenas que o menino Diogo Agostinho está a ficar lélé da cuca. Senil, clinicamente hablando. O menino Diogo Agostinho escreveu, entre outras coisas, que «O culto do ateísmo e agnosticismo são preocupantes, não por questões religiosas, mas para a sociedade em geral.». Ó etc, 'tás a gozar comigo, pá! A gozar do francês gozê e não o gozar brasileiro. Não, não estou! Estou a falar a sério! Pá, não acredito! Estás a gozar avec moi! Não estou! 'Tás! Não estou! Pega lá a frase com linque, só para perderes a mania; «O culto do ateísmo e agnosticismo são preocupantes, não por questões religiosas, mas para a sociedade em geral.» Foda-se... não 'tás a gozê! Népias! Nem um bocadinho danoninho assim! E o que é que tu crês assim em geral sobre essa afirmação? Em geral, e na medida de um absoluto generalizado, creio que. Crês que? Sim, creio que. Que o quê? Que o quê nada! Só que. Creio que. Não estás à espera que depois de uma afirmação ao nível do escatologicamente espectucular do menino Diogo Agostinho eu vá contrapor, pois não? Por acaso, até estou! E fazes muito bem, ó voz vinda do mais recôndito e íntimo lugar do meu self! O menino Diogo Agostinho até reflectiu sobre assuntos deveras caros à minha pessoa e também ao Dr. Etc.. É bem verdade a coisa da falta de espírito de entreajuda e de partilha. É também bem verdade que hoje em dia a solidariedade aparece sobre forma de cobertores usados e roupa gasta dada no Natal. Tudo muito certo, menino Diogo Agostinho. E falas da falta de ética, da ganância (ou ânsia material) e do individualismo, e tens toda a razão. E citas o Prof. Moreira, que eu cumprimento com a devida vénia mental. Tudo muito certo, menos a frase destacada, pá! Então, os católicos têm a pelouro do somos bonzinhos e ajudamos os outros sem procurar nada em troca? Então, os católicos é que são os genuínos desinteressados? E, nós, ateus e agnósticos (vá, descrentes em geral) somos o quê? Voluntários leigos que apenas cumprem uma missão social por descargo de consciência? Ou será que o fazemos apenas para podermos ostentar essa medalha no peito na altura da passagem para a outra margem? Sim, porque nós, os peçonhentos, fazemos isso de propósito! Não acreditamos, mas não vá o diabo (o inimigo) tecê-las e mais vale fazermos as coisas que ele (o pai) mandou porque depois sempre podemos apresentar credenciais. Imagina comigo: "Olá, eu sou o todo poderoso. Sê bem-vindo! Obrigado, meu pai! És católico, não és? Sou! Muito bem, podes entrar! E tu? Eu também sou! Podes entrar, então! E tu? Bem, eu não! Ah, e agora queres descanso eterno, não é? É dava jeito! Já bastou a labuta lá em baixo! Pois, pois, mas agora já acreditas em mim? É, pá, tem que ser, não é? Mas olhe que eu também não acreditava que o euromilhões me podia sair, e raramente jogava, por isso não leve a ofensa a peito, ok? Pois bem, meu filho, tens algo de bom a apresentar-me! Olhe eu, pelo sim pelo não, fui fazendo acções de voluntariado, já a contar que podias existir e assim safava-me de ir lá para baixo, não é?". Seria, ou será, mais ou menos isto. Mas repara, eu sou aquilo a que se pode chamar de descrente informado. Sei pouco, é verdade, mas gosto de me informar. Estudei com os jesuítas, leio C.S. Lewis, gosto de filósofos judeus e mais não sei o quê. Não vou muito à bola com o Nietzsche e deixo-me seduzir facilmente pelo Kierkegaard. O Sartre também me chateia mais do que me estimula. No fundo, teria tudo para ser um fiel escudeiro num qualquer rebanho, mas tresmalhei-me. O teu texto, menino Diogo Agostinho, dava pano para muitas mangas, mesmo que fossem para camisas largas, XXL, como as minhas. A vossa conversa, dos católicos em geral, alguns em particular (genial esta merda!), é sempre inevitavelmente serena, feita de silêncios de tréguas, de carinhos por olhares, de sorrisos cúmplices. Como se nela se cumprisse o balanço de todos os afectos. Como se fosse um suspiro de alívio ao chegar de um sprint desgastante, mas vitorioso. E eu, que com isto tudo me sinto transbordante de serenidade, faço daqui um cheers! Um brinde! É que não se consegue parar de rir, a vossa, neste caso a tua, finura humorista entranha-se e, como somos todos uma espécie de "amaricanos", ficamos aqui sentados a rir, a rir. Nem a Maria Vieira em dia de especial inspiração me faria rir mais, god damnit! Ooopss... Mas tento respeitar a tua insinuada pujança intelectual e essa crença de que vos caiu uma luz sobre a alma que vos permite pura e simplesmente ser melhores. Um acesso directo à bondade. Quando no fundo, no fundo, no fundo, não adianta explicar a elementar regra da matemática que demonstra, sobejamente, qual o produto de qualquer multiplicação se um dos factores é nulo... Nulo de inexistente, portanto!

Depois deste texto, fica-me uma azia descomunal, baralhei tudo e encontrei um denominador comum para este turbilhão endógeno:

Ando outra vez com falta de mimo. Como tal, recorro a quem sabe.



Abraços, beijos e apalpadelas a quem gostar. Desde que não me processem a posteriori, ajudadas pelas merdas modernaças indivíduas de cachecol roxo da UMAR.

*não foi o chefe silva, foi o badaró. ou zé figueiras. já não me lembro. mas foi um ícone da cultura pop. não terá sido a mila ferreira? se calhar foi o zé malhoa. ou o/a dina.

P.S.- Os puristas podem ouvir a versão de estúdio aqui. Salvé irmãos! Salvé!

7 Response to "conselho que uma vez o chefe silva* me deu: é mais fácil usarmos os olhos dos outros quando queremos ficar tristes. a história do menino Agostinho"

  1. Acho que os puristas ficam bem servidos com este...

    Anónimo says:

    música de pretos! não há melhor!

    Ricardo says:

    Ahhh bem me parecia que conhecia essa música de algum lado, ainda bem que meteste o PS.

    Um dos teus defeitos, decididamente, NÃO É a falta de imaginação nem de talento para a escrita! Que inveja... :)

    Anónimo says:

    estás a ser simpático, pá! o que é que queres, diz lá? :-)

    PontoGi says:

    Faco parte do grupo das "apalpadelas"

    Caríssimo Dr. Etc.

    Que bela risada este post. Agradeço a honra de ser citado no seu blog.

    Quanto ao tema, não se trata apenas de uma questão de ser católica, mas de acreditar em algo superior. A minha afirmação era uma reflexão. O risco de quem não acredita em algo superior tentar afirmar-se como ser superior...

    Lamento não ter sido claro.

    "Sei apenas que o menino Diogo Agostinho está a ficar lélé da cuca. Senil, clinicamente hablando."

    Quanto a estas palavras, gabo-lhe a capacidade de sem conhecer pessoas auto diagnostícá-las.

    Lamento, mas ainda nao estou de todo, apesar de também só ver futebol e jogar FM.

    "não se trata apenas de uma questão de ser praticante da religião católica"

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