fontes de inspiração

literatura fontenária do mês


" [...] o que faz a grandeza deste livro singular
é a sua aparente renúncia a querer ensinar ao
mundo aquilo que o mundo só pode aprender
por si próprio. [...]"
antónio mega ferreira (in n.s. nº 149 - pp.57)
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prometi que iria cumprir uma tarefa. no dia em que saramago morrer vou recomeçar a ler a sua obra e analisar livro a livro, as passagens mais marcantes, retirar as melhores citações, as melhores reflexões, tudo o que for de interesse público, e irei divulgar os seus textos. porque se tornou uma paixão literária muito forte. e eu sou obstinado.
o paquiderme oferecido pelo rei de portugal (d. joão III) ao seu homólogo da áustria (maximiliano) , ilustre terra que saramago faz questão de castigar em algumas partes (e que eu corroboro, apesar de só conhecer a capital), sendo que os seus habitantes têm tanto de cultos como de antipáticos, vai fazer a viagem para ser entregue ao seu novo dono. esforço-me pois por deixar o livro de saramago falar, porque é triste perceber que o escritor português, tão maltratado em tempos (relembro a fase do lançamento da obra o evangelho jesus segundo jesus cristo; obra aliás que todos deveriam ler para perceber a grandeza da imaginação humana) dizia então, que é triste perceber que ele terá pouco mais a dar aos seus seguidores (eu e mais uns poucos, não sei bem quantos, mas nunca conheci ninguém que tenha lido uma das suas obras).
considero estar de tal forma bem escrito, que mais poderemos dizer que é um exercício de ensaio sem necessidade de correcção, escreve com a leveza com que a ideia desliza para o papel, porque se apoderou dele aquilo que eu procuro na minha escrita (para além de expurgar as tentações auto-biográficas) que são as certezas aliadas à ficção. os valores permanentes. virão umas vozes críticas que eu terei muito gosto em retorquir antes delas se fazerem ouvir. diz o miguel esteves cardoso, na mais que propalada e referenciada excelente entrevista à revista ler,
" Sobre toda a gente que morava numa ditadura vão arranjar histórias. [...] Mas isso pelo amor de Deus, não tem nada a ver com a obra." (vão lá ver se quiserem e leiam o resto, pp. 34)
é uma tendência natural que temos de denegrir o que é português e bom. não percebo. ultimamente só tenho lido boa prosa e poesia em português. a viagem do elefante é também um conto que esplana o que de melhor pode haver nos homens. e o pior em contraponto, "Somos, cada vez mais, os defeitos que temos, não as qualidades." (pp. 147). talvez por isso sejamos uma espécie de " [...] frustrados como aquele espectador que seguia uma companhia de circo para onde quer que ela fosse só para estar presente no dia em que o acrobata caísse fora de rede. [...] " (pp. 169)
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esta viagem é uma desculpa para criticar a estrutura da sociedade, como as pessoas se envolvem, como as aparências podem cingir as liberdades. ao ler percebemos que saramago sublinha a incongruência desses lapsos ancestrais. a estupidez humana que diminui um simples soldado, ou agricultor pela falta de escolaridade (não de educação), quando podem ser poços de sabedoria e ensinamento, é algo que só tarde ou nunca aprendemos. a humildade de reconhecer a necessidade de tratamento de igualdade, os valores de partilha, sentimentos nobres de entre-ajuda, no fundo o que todos sabemos ser necessário, mas insistimos em esquecer.
não sei se não devemos mesmo sublevarmo-nos perante o que se considera inevitável, "não discutas com quem manda, subhro *, aprende a viver." (pp. 52) e não vejo aqui nada que possa ser defendido como sendo de costela esquerdista, quem me conhece sabe que as minhas opiniões são pouco enquadráveis, e eu defendo o que penso. ler é para mim um exercício de libertação ou de experimentação da liberdade. e aconselho por isso mesmo. sem tabus nem ideias coarctantes.
por isso, escreve mais saramago. escreve para os ímpios que amanhã, depois da tua morte, te elevarão a um patamar que em vida nunca o farão. nós esperamos por mais, porque "o porvir, como os antigos diziam, e acreditavam, só a deus pertence, vivamos nós o dia de hoje, que o de amanhã nunca se sabe." (pp.246) esperando que nos deixes esse legado.

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* subhro (tratador do elefante)

releia ( I - II - III - IV)

6 Response to "fontes de inspiração"

  1. Me says:

    valeu o trabalho.
    parabéns.

    S. G. says:

    :-)
    obrigado
    (estava inspirado)

    PontoGi says:

    Fiquei com vontade de o pedir ao Pai Natal!

    S. G. says:

    eu acho que ele deve ter alguns :-) aproveita e quando vieres cá no natal leva-o contigo. já agora desejo-te um bom natal, porque receio esquecer alguns bloggers.

    Teté says:

    Bom, nunca li Saramago! Ou seja, comecei a ler, mas confesso que não aprecio muito o estilo, quase isento de pontuação. Baralha-me e confunde-me, perco-me na ideia que pretende desenvolver! Também não simpatizo com o homem, enquanto homem (não é que o conheça pessoalmente, está bom de ver), mas nunca seria por aí que posicionaria a sua escrita. São realmente duas realidades diferentes: o escritor e a sua obra!

    Dizendo isto, conheço alguns que adoram Saramago (como escritor), que não perdem um livro dele, outros que já leram alguns, e gostaram de uns não tanto de outros e uma porção de gente que detesta e abomina, sem nunca ter aberto nenhuma obra sua - que, tal como disse, não é o meu caso.

    Duvido que leia este ou qualquer outro, porque com tanto livro para ler não me parece útil perder tempo com aqueles que me enfastiam. Para mim, ler é um prazer, daí ser esse o meu critério de leitura, longe de qualquer sacrifício só para dizer que também li...

    Dito isto, gostei da tua exposição e das frases que escolheste para ilustrar a obra.

    Beijoca!

    S. G. says:

    teté,

    és a única opinião que aceito, sobre não gostar de saramago. quase todas as outras são muito mal defendidas, e na maiorida dos casos, se não mesmo todos, niguém terá lido um livro do homem.

    por isso mesmo e porque respeito os gostos, tal como eu não gostei da primeira tentativa de ler lobo-antunes, digo-te que niguém tem de o ler obrigado. deve ler porque procura o prazer da leitura. eu encontrei na narrativa dele, no ritmo do texto e na voz presente do narrador, um estilo que me agradou e agrada, como foi neste último caso.

    obrigado pelo teu comentário.

    beijinhos

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