Luiz Pacheco - Bendito maldito

Morre Luiz Pacheco e o país, entre aplausos, dispara os clichés esperados: um escritor 'incómodo', 'maldito', 'provocador'. Estranha situação. Quem é 'incómodo', 'maldito' ou 'provocador' não parte sob aplausos. Verdade que, em Portugal, existe o hábito cínico de achar que a morte melhora sempre o carácter. Mas quando se é verdadeiramente 'incómodo', 'maldito' ou 'provocador', nem a morte faz milagres. Sobram duas explicações possíveis. Primeiro, os elogios dirigiram-se à obra, não ao homem. Ou, então, os elogios dirigiam-se ao homem porque o homem não era 'incómodo', 'maldito' ou 'provocador' coisa nenhuma. Pessoalmente, alinho pela sua segunda tese. Obra? Duvidoso que o país tenha lido Comunidade ou O Libertino Passeia por Braga, dois opúsculos com interesse pelo retrato de uma certa marginalidade existencial mas que dificilmente se constituem como 'obra'. Sobra a hipótese do 'provocador' Pacheco, na verdade, não ter provocado uma única alma. Um 'provocador', no sentido elevado do termo, não se limita a disparar insultos aleatórios sobre a fauna disponível. Porque ele sabe que, disparando sobre tudo, o mais provável é não acertar em nada. Um 'provocador' provoca porque propõe: uma visão alternativa do mundo que indigna ou inspira em partes iguais. Como na prosa de Eça, no teatro de Oscar Wilde, no jornalismo de Paulo Francis. Luiz Pacheco nada propunha que o distinguisse da orgia verborrágica que é própria da catilinária reles. Sem consciência, sem consequência. Não admira que, na hora da morte, o escritor 'maldito' tenha sido bendito pela pátria agradecida. Para um 'provocador', haverá pior certidão de óbito?

Expresso

1 Response to "Luiz Pacheco - Bendito maldito"

  1. Anónimo says:

    Nao perceber a visao alternativa que representava Luiz Pacheco é nao conhecer Luiz Pacheco. É ser ignorante e ter o atrevimento de escrever um artigo hemorramerdagico destes. Tenha pena de si, meu caro.

    BENTO X

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