Não sei muito bem o que vai ser da minha vida. Desde alegorias opiáceas, a delírios marroquinos de chá de jasmim, passando por transpirações, inspirações, piruetas, rodopios, homenagens e o estrangulamento de peles vermelhas já fiz de tudo um pouco. Sei que tanto gosto de enterrar os pés na areia e sentar-me no alto da duna enquanto vejo as marés vivas devolverem às formas primordiais o que teimamos em adaptar ao nosso jeito, como passo horas a percorrer os caminhos de conchas que desfilam à beira-mar. Tanto gosto de frases curtas. Como de frases longas e textos indecifráveis de talento. Por outro lado, cedo sempre ao óbvio da estupidez. Gosto de futebol, de ficar de "papo pó ar" dias sem fim, de rejeitar empregos e de me despedir "porque sim". Uma das poucas virtudes que tenho é a de não arrepiar caminho. O que é bom, uma vez iniciada uma teoria, ela não deve ser abandonada ao primeiro escolho. A vida é banal e, por vezes, deprimente. Bom, ainda bem que aqui cheguei. Era mesmo aqui que eu queria chegar. Espetar o marco nesta questão. Mesmo para quem se encara na vida de um modo pouco dado a monotonias. Mas que, por vezes, nos deixa exaustos, vazios de ideias, de vontade, de humor, de tudo... Hoje não me apetece escrever bem, não me apetece ter graça, muito menos chatear-me com quem quer que seja. Hoje apetece dizer - "raios parta isto tudo, quero férias". É verdade, rendo-me: preciso de férias. Muitas! Não me apetece pensar. Assim, tal como as fãs do "Sexo e a Cidade". Da série e do puto do filme, que um mal nunca vem só. Mas, como já disse, hoje, não estou para me chatear. Andamos quase todos muito excitados e era preciso mais calma, tenho a impressão (se calhar errada) que não estamos em altura de nervosismos. Ainda assim, respeito mais uma fã do clã Carreira do que uma daquela merda supostamente moderna. Se eu fosse mal intencionado, juro que pagava para mandar as fãs desta série (e agora filme) para o deserto contar em chinês os grãos de areia. Mas ninguém teria coragem de planear uma coisa destas, pois não? Pois, que isto de sonhar é fácil e qualquer fã desta séria o consegue fazer. E sonham com os sapatos, as putas das malas, os casacos, os restaurantes e as eternas esperas (sob a chuva oblíqua) a que o príncipe as obriga. O malvado. Lamento. Muito. Se lamento. Dá vontade gritar: "Hello, recepção chama cérebro! Recepção chama cérebro!". Obviamente, responde-nos o eco. O fiel amigo. Mas, eu que não desisto facilmente, ainda era gajo de lhe dizer (ao eco): "Ó amigo, diga à sua pessoa que ela tem tido o sonho errado, se faz o favor!" É óbvio que o eco se limitaria a repetir, sem saber porquê, o que lhe havia sido dito. Tudo isto, num jogo moucos, é extremamente redutor: vistas as coisas assim "tudo é apenas aquilo que é". E isto seria um sonho. Delas. Um sonho mau, fraco. E, meus amigos, falido o sonho, a vida delas repete-se na vida de personagens de más actrizes.