fontes de inspiração
By S. G.
on sábado, 6 de dezembro de 2008
14:14
, in
as cidades e as terras
,
fontes de inspiração
,
2 Comments
as cidades e as terras
.
III
III
.
évora - no olimpo dos deuses
évora - no olimpo dos deuses
.
subimos pela manhã ao único monte que existe em todas as redondezas. o alentejo assim vestido de uma intensa vida modorrenta, modera os excessos de calor, afunila o horizonte que se vai perdendo de vista e retrata a vida dos sobreviventes da estiva. subimos ao único monte pela única estrada que lá subia. muito devagar como manda a boa educação dos forasteiros.
subimos pela manhã ao único monte que existe em todas as redondezas. o alentejo assim vestido de uma intensa vida modorrenta, modera os excessos de calor, afunila o horizonte que se vai perdendo de vista e retrata a vida dos sobreviventes da estiva. subimos ao único monte pela única estrada que lá subia. muito devagar como manda a boa educação dos forasteiros.
.
há uma professora catedrática que vai explicando os pormenores técnicos e cientifícos desta visita. ao que parece é um dos primeiros projectos de siza vieira, um bairro habitacional construído no início dos anos 80. está degradado como tudo o que vai avançando na idade. e cheio de erros de concepção, nada como perceber que a genialidade exige trabalho e dedicação.
.
não me preocupam os erros das pessoas. mesmo que não seja digno do nome siza vieira, a obra está ali, e ali vivem dezenas de pessoas que disfrutam duma paisagem irrepetível. procuro desviar-me um pouco dali e deparo-me com um cenário maravilhoso. do alto deste monte vemos toda a cidade de évora, toda a muralha circundante, a cidade intra-muros e ainda as novas urbanizações (não muitas que o partido comunista não deixa que os exploradores do mercado liberal se apoderem desta beleza).
.
a muralha define os limites, o cerco onde viviam muitas vezes estas pessoas. foi ali que se aplacou a investida do rei português pela conquista do reino. d. sancho I invadiu as sombras da cidade expulsando os árabes que nos deixaram esta excelente arquitectura. a muralha continua intacta em quase toda a sua extensão. depois circula pela cidade um engenho que abastecia água a toda a população, o aqueduto.
.
o sol abata-se sobre os pilares resistentes do templo. poucos turistas ocupam as perspectivas sobre o monumento. vão repetindo os cliques procurando recalcar a memória futura. os clichés nunca se cansam de repisar o rolo (sim naqueles anos só existiam máquinas de rolo).
.
sei que permaneço inerte enquanto vibram em mim arrepios perante os cenários mais estranhos. uma capela repleta de ossos parece-me macabro. desenterrar as almas de deus - ou o que resta delas - e ornamentar uma capela pelo simples sonho de um frei não me parece que fosse bem recebido pela inquisição (vale ao frei que a evolução do pensamento fez esquecer o rigor da obediciência católica)
.
estou cansado (não de escrever esta crónica) estou estafado deste passeio e é a minha hora de descansar na praça do giraldo. nestas esplanadas escrevinho coisas que acabarei por perder com o tempo. os cadernos das viagens são sempre fieis depositários da realidade vivida, mas não do que existe. de cada vez que lá voltei vi uma cidade diferente, ou eu é que voltei marcado, com cambiantes de emoções que me recordam a necessidade de lá regressar. a cor da minha saudade é amarela trigal.
..
Évora é uma cidade lindíssima, ainda bem que não deixam construir lá à toa e destruir a paisagem com selvas de betão...
Não conheço esse bairro social extra-muros, mas apesar dos erros de concepção que eventualmente existam, muito do abandalhamento desses bairros depende também das pessoas que os habitam.
Pena teres perdido esses apontamentos que tiraste no local, mas essas páginas acabam por sempre esquecidas. Resta-nos sempre a memória! :)
ainda bem que há cidades que foram crescendo com cuidadoso apreço pelo património. não é o caso de braga infelizmente.
e assim évora mantém-se uma cidade muito boa para uns dias de descanso.