Antes de tudo, uma pergunta: será que o Mantorras tem desconto na revisão do carro por comprar as peças que ele precisa na mesma garagem?

Mantorras tem um dom. Está rico, mesmo não sabendo fazer Bergessio na vida! Que um jogador da bola fique rico, eu percebo. Que o Nuno Assis pertença a um plantel de futebol, também aceito. Que Mantorras receba milhares de euros por saber entrar e sair num avião da rota Lisboa-Barcelona-Lisboa, já não me parece bem. Sinto-me humilhado, confesso. Amigos, para aquilo eu também sirvo. Aliás, manco e coxeio como poucos na minha zona. Uma vez, até me disseram: "Ó Etcétera, de que é que são esses caramelos? São de abóbora com mel de Azeitão" - disse eu, ao que eles acrescentaram: "'Tás a gozar, ó filho da puta? Só não levas dois bananos porque coxeias e mancas como ninguém". Lá está, nunca sabemos quando as nossas habilidades nos podem safar de um valente coçório! Parece-me que é isto que passa com o Mantorras. O gajo quando chega a algum lado e se apresenta como jogador da bola, deve ser tido como alguém que carente de intelecto, certo? Aliás, se os jogadores precisassem de trabalhar a recibos verdes, ia ser muito difícil que alguém aceitasse que o Mantorras era futebolista. Parece que estou a ver o tipo das Finanças de Maximinos (ou equivalente lá pós lados da Charneca): "Então o senhor é jogador da bola? Pois claro, pois claro! E vai dizer-me que o Quasimodo é o Mr. Universo, certo? Ou que a Ana Malhoa é uma mulher, não?"

No entanto, aquilo que verdadeiramente quero dizer é que o que permanece, para lá do humano regozijo irónico do momento mantorriano, é a consolidação desta certeza: a liberdade e a dignidade - já agora, a vida - das pessoas podem depender, havendo azar, apenas, de eventuais misericórdias de cabrões.

E isso, meus caros, parece que não, mas chateia!