As oportunidades do costume

Confesso que este poste me tinha passado ao lado. Não tinha reparado nele, a sério. Hoje, na minha visita diária ao emílio cá do blogue, deparei-me com este comentário e fui averiguar. Ora, meus amigos, este é um assunto que muito prezo e que me dá de comer. Mal e pouco, mas dá. E eu não sou de ser ingrato, pese embora mande, por vezes, em alturas de lucidez, a chamada lula para o prato. Principalmente, se estiver a comer massa. Assim , passa mais despercebida. A lula.

O exercício é de fácil entendimento. Um indivíduo dito normal, daqueles aplicadinhos assoadinhos que tem mãe e pai a foderem-lhe o juízo porque ele tem más notas, demora no minímo 3 anos a completar o 9º ano e mais 3 para completar o 12º. Certo? Tudo de acordo? E custa, não custa? Um gajo vai todos os dias para as aulas levar na cabeça, empanturra-se de merdas que não lembram ao Pai Natal e acaba os estudos. Repito: todos os dias, durante 6 anos. Certo? Ok. Como até há algum tempo atrás, esta merda de ir para a escola tinha a sua dificuldade, cidadãos havia que se quedavam no chamado chumbo. Ora, esses indivíduos completavam a custo o 9º ou o 12º anos. Muitos nem isso. É justo! Por isto ou por aquilo, não conseguiam atingir os requisitos mínimos para aprovarem. A mim, cidadão português, parece-me bastante justo e aceitável. Pá, este ano morreu-me o pai, ou a mãe, ou o cão e não consegui estar no meu melhor. Não consegui concentrar-me e reprovei. Ok, não há problema. Repete o ano, não há crise, e segue caminho. Normal! Aconteceu a muito boa gente. Certo? Até aqui, tudo de acordo. O trivial de um país civilizado.

As coisas mudam de figura quando o nosso PM se lembrou de espirrar a seguinte frase "iremos certificar e reconhecer conhecimentos e competências a 1 milhão de tugas até 2011". Ora, muito money está a escorrer de mão em mão neste momento em que vos escrevo à paleta desta declaração. É, há uma merda chamada FSE que distribui graveto pelos países com analfabetos para que estes países consigam qualificar a sua mão-de-obra para que assim o país se desenvolva correcta e ordeiramente. Tudo muito lindo! Não fosse o nosso país ter um sistema de facilitismo que origina a que a grande maioria das pessoas consiga uma equivalência ao 9º ano em 4 meses (2x por semana) e ao 12º em, vá, 8 mesitos (isto se frequentar um centro de formação com um mínimo de rigor, caso contrário pode muito facilmente receber a certificação passados 40 dias ou, então, no acto da própria inscrição...)! Espectacular. E falamos de quê? De portefólios e mais o caralho. Então, Sr. Antunes já sabe sobre o que vai escrever para a disciplina de Matemática para a Vida? Já! No outro dia, estava a malhar na mulher e ela responde-me feita campeã que já era a 9ª vez que eu fazia aquilo! Eu pensei, ora, cá está um bom exemplo que posso introduzir no meu portefólio individual. Se eu contar esta história e fizer as contas à vezes que malhei na minha mulher já posso ir a júri porque já tenho os créditos suficientes. Muito bem, Sr Antunes! E, é mais ou menos isto.

Perdoem-me, mas justificar a valia deste cursos com a prolixidade dos referenciais é no mínimo hilariante. Até porque, creio eu, que todos nós facilmente chegamos à conclusão de que quando alguém nada tem para dizer só lhe resta recorrer à mais balofa retórica, que certamente faria corar de vergonha os vetustos oradores. E é esse o caso. Por isso, a dificuldade que os "profissionais" têm na interpretação e aplicação dos referenciais é a mesma que muito provavelmente terão na interpretação e aplicação de qualquer outra merdice que lhe seja pedida.

Um cidadão a frequentar um curso RVCC (adulto, neste caso, que lhe chamarmos formando ou aluno ele sente-se diminuído e depois ainda pensa que vem para a aprender quando ele vem para mostrar que sabe) avalia-se (perdão, certifica-se) como se avalia (perdão, certifica-se) outra pessoa qualquer. De surpresa, num rompante, num brilho esquisito que lhe enfeita os olhos, de repente. Sabem todos o mesmo, está tudo ali, nos referenciais e na nossa cabeça. O conhecimento entra sempre, na cabeça, da mesma maneira, ou de maneiras parecidas. Como se mistura com o que já lá está, que puré sai dessa alquimia estranha que fascina pela química pura da miscigenação, é que não se sabe e não se avalia (perdão, certifica-se) muito bem. E comparar pessoas, homens e mulheres, é exercício de medidores: a medida já lá está, os medidores só medem. De régua. É que já não bastava Bolonha, onde adolescentes com 3 anos de Faculdade são automaticamente aprovados para um Mestrado integrado, tendo apenas que fazer um súmulo relatório das actividades de estágio et voilá: Mestre! Anda um gajo a escavacar o esqueleto, a perder horas de sono, de sexo, de futebol para apresentar uma tese condigna (no meu caso com 130 e tal páginas) para agora qualquer marreco que saiba compliar o seu dia-a-dia num diário o possa fazer também? Ah, mas tu tens mais competências! Não te esqueças que isso conta, porque passaste mais anos a estudar e blá blá blá... Conta a piça murcha, é que conta! Por isso, é que eu, um pouco farto de ser gozado por este país de merda cheia de gente que manda como o caralho sem um pingo de preocupação com os outros, digo: fodei-vos. Havíeis de levar no cu, havíeis de ser encabados pelos restantes cidadãos todos, havíeis de passar horas fechados num quarto pequeno e escuro, com seis daqueles tipos com disfunções erécteis, esses que agora já funcionam outra vez, a comprimidos azuis, esses que agora parece que têm o tempo todo do mundo para foder, dá nos anúncios a dizer que agora é a qualquer altura!, havíeis de os ter em fila, por detrás de vós, cheios da paciência dos contentes, a meter-vos mole, à vez, até vos virdes, VÓS!

16 Response to "As oportunidades do costume"

  1. Anónimo says:

    tenho uma coisa a dizer: se eu me tornar homem-a-sexual quero casar contigo

    Como costume, só verborreia. Não sei como funciona com as pessoas que tu conheces mas no meu caso completei 3 anos de licenciatura (no último apresentei uma tese de investigação, assim como todos os meus colegas) e optei pelo mestrado integrado para continuar a minha formação (deficiente), que de resto faz sentido - especializar o estudo, permitir formações diferentes, ser bom numa área e não médio em todas. A tua indignação com a “facilidade” com que se frequenta um mestrado só tem uma justificação – inveja. Se queres que te diga, não passam de títulos (mestre, doutor, tudo bling.bling), no fundo de aparência. Tou-me a cagar para isso. Já agora, para tua informação a avaliação do mestrado integrado faz-se através de dois módulos – relatório de estágio e uma tese de mestrado. Falar por falar (ou escrever por escrever) dá nisto.

    "a dificuldade que os "profissionais" têm na interpretação e aplicação dos referenciais é a mesma que muito provavelmente terão na interpretação e aplicação de qualquer outra merdice que lhe seja pedida."

    tb ñ percebi tudo desta merdice pelo que aparentemente, a dar-te razão nisto teria que dar no restante...fica cada um com a sua, pode ser?

    PS: palermas ignorantes há em todo o lado, tal como pessoas esforçadas e/ou competentes!

    Anónimo says:

    Bem, tens razão. Epá, eu sofro um bocado já de mim, sabes, e quando começo a falar de assuntos que me irritam perco a noção de cordialidade e bom-senso. Tento, acredita, limiar essa com outras arestas, mas ainda não consegui. Tens toda a razão, até porque deveria ter mudado a pessoa verbal e, obviamente, incluir-me. Peço sinceramente desculpa, não queria deliberadamente ser ofensivo, nem menosprezar quem quer que seja, mas acabei por fazê-lo. E, é assim. Cada um com o seu karma.

    quanto so sr. chouriça, i rest my case...

    Anónimo says:

    Já deu mais gosto discutir contigo, caro amigo (inclusive com essa personagem irritante do etc). a tua postura de "eterno aprendiz" já não condiz com esta tua arrogância e prepotência. :) beijinho
    Chou riçá

    Anónimo says:

    Sabe a Joana que "competente" até uma máquina de brindes o é. Basta meter 50 cêntimos e ela competentemente dá o brinde...

    MA

    Anónimo says:

    Eu acompanho este blog desde quase o início. Foi o Hugo que mo indicou ainda ele escrevia cá. Conheço a Joana Fernandes de a ter visto um par de vezes. Não conheço o "Dr. Etcétera" mas acho que já o conheço. Quero dizer que ele é talvez o que mais se "dá a conhecer" neste blog. Por isso é facil de entender que os exageros fazem parte dele como fazem as piadas e os comentários mais sérios sobre assuntos do dia. Faz tudo parte da personagem como disse o Chou riçá. O que não acho bem é que quando ele disse alguma coisa sem dizer mesmo de quem esta a falar toda a gente gosta e deixa comentários e ri-se e depois quando ele fala de situações que sabemos o que são ficamos chateados. Naõ acho muito bem mas é já disse é tudo coisas que ele inventa.

    Anónimo says:

    é parvo vai se lá saber

    etc, tamos bem! não ofendeste e normalmente ñ responderia, sei bem quem sou e o valor que tenho mas, se tu não és homem para te moderar, eu não sou mulher para me deixar ficar.. :)

    para que não me tomem por parcial, eu trabalho como técnica de formação profissional, que já existia mto antes das novas oportunidades. a FP tem mtos defeitos mas também mto mérito. e em grd parte depende da entidade que a executa e das orientações que define, é precisamente isso que defendo!

    de resto, a discussão aparentemente já ñ é tto essa mas sim saber se tu és um palerma ou eu uma loira burra...e eu tenho a dizer que o meu cabelo era loiro mas entretanto escureceu! :P

    Não me surpreendeu nada o que o Dr. etc escreveu neste post, aliás tenho a dizer que concordo quase a 100% da sua opinião. Não sobrescrevo na totalidade porque não usaria tanto calão como ele usou mas, como já alguém aqui disse faz parte do Dr. etc. Visito diariamente e mais que uma vez este blog e o Dr. Etc todos os dias é capaz de provocar em mim um qualquer sentimento, alegria tristeza, apreensão, surpresa. Não o conheço pessoalmente mas dá para perceber que é daquele tipo de pessoa que mata e esfola mas, que logo a seguir volta a terra e consegue perceber que não esteve muito bem. Será que é assim Sr. Dr. Etc?

    Anónimo says:

    O "senhor" é palerma como muito diz a Joana e ainda por cima covarde. Nada que não desse para perceber

    Anónimo says:

    Não creio que haja discussão quanto a saber do meu grau de palermice. É acentuado. Escrito, transcrito, lido e treslido. Assumido, explícito e palpável. Para que não fiquem dúvidas. :-)

    O meu problema não é saber se estive muito bem ou muito mal. É apenas perceber que tenho gente a meu lado. Nada mais.

    Anónimo says:

    Bem, eu dispenso os palavrões... À parte isso acho que esta "fonte" é o bem mais precioso deste blogue.

    Continuação...

    raios, eu só fiz uma piada...etc,. fica aqui igualmente escrito que considero que és tão palerma como eu!! o q no meu caso se torna grave uma vez que não escrevo com pseudónimo e no teu me refiro apenas a este personagem em concreto :P

    Anónimo says:

    Eu percebi, CARALHO! Deixa-me passar por vítima que estou a gostar!! :-)

    Ó Flora, eu não acredito que o nosso menino fluviense (fluviano, fluviestre, como é que se diz?) não te tenha ensinado a apreciar o deleite de um bom palavrão! :-) Não sei se ele te conta, mas pergunto sempre por ti. E pelo teu irmão. Que ainda lhe estou a dever uma. Bem grande. bjs

    Anónimo says:

    Oh mestre da sabedoria/literatura clássica... "flaviae" (o ae estão juntinhos, qs em cima um do outro), diz-te alguma coisa???

    Qt ao nosso menino, vamos apreciando o deleite de outras coisas, (talvez daqui a uns anos passemos à fase dos palavrões) :-)

    Beijinhos

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