Valter Lemos é, como qualquer político que se preze, perito em explicar, com detalhado requinte, toda e qualquer estupidez. Então não é que o Mestre Lemos está, no roncar do próprio, "muito optimista" com os mais recentes relatórios relativos ao insucesso e abandona escolar em Portugal? E, ouve lá, ó Etc, não tem motivos para estar? Ele e os seus compinchas na farsa têm, obviamente. Os alunos, os pais, os professores, e todos nós, raia miúda em geral, não. E, ouve lá, ó Etc que tens a mania que andas aqui mais alerta do que todos os outros, não é bom sinal que menos alunos desistam da escola e que menos alunos reprovem? Seria, naturalmente, caso o ambiente escolar fosse mais propício ao rigor, à transparência e à competência. O que não acontece. E não acontece porquê, meu caralho? Bom, não acontece porque continuamos muito preocupados em colocar a antena de recepção do serviço MEO no telhado, quando nem sequer temos os fundamentos necessários para colocar uma viga que seja nos alicerces da casa. Enquanto que as Associações de Pais e as Confederações e mais o caralho continuarem a boicotar o ensino nas escolas públicas com as suas preocupantes preocupações, vamos todos continuar a nadar em círculos de apatia e inépcia. Enquanto que a preocupação dos narcisistas que pululam nesta miserável governação for o seu próprio CV (sim, veja-se como o Eng. Sócrates e seus camaradas se preocupam constantemente com as tabelas da OCDE e com os subsídios da UE e mais sei lá o quê, para que daqui a uns anitos possam julgar o que fizeram com números bonitos em relatórios com esquemas e gráficos e mais o caralho, tudo a dizer que "os números apontam para que naquele período o sucesso tenha sido muito considerável") não vamos nunca, recorrendo ao português do antigamente, pegar o touro pelos cornos. Mas é bom que se crie este círculo vicioso. Bom? Sim, bom! Ora, a questão é esta. Passa de ano todo e qualquer marmanjo que se matricule numa escola. O caralho pode não fazer um chavo, pode não saber ler, escrever, interpretar uma notícia, o que for. Não interessa. Transita. Melhor, passa. Senão o chavalo nem percebe que o que lhe aconteceu. Passa até concluir com sucesso toda a sua formação. E o que temos então? Temos um analfabeto com o 9º ano. Ou o 12º. Ou com uma Licenciatura. Conforme. Mas fiquemos pelos do 9º ano. É mais facilmente aceitável que um aluno acabe o 9º ano sem saber ler ou escrever. E, sim, não estou a exagerar. E de quem é a culpa? Dos professores? Não. Porque muitos professores (vá, alguns...) insistem que a reprovação faz parte de qualquer sistema de ensino digno. Contudo, alguns Conselhos (de turma, Directivos, Científicos, Regionais, Distritais, Nacionais, Europeus...) consideram que o importante é que a escola seja um lugar de amena cavaqueira em que, se tudo correr bem, os alunos podem até, imaginem vocês, justificar que aprenderam alguma coisa. Mas só se for mesmo, mesmo, mesmo necessário. E se o professor se armar em justiceiro, leva-se o caso a um dos conselhos, obriga-se o professor a justificar (com resmas de papel) a sua nota perante um júri constituído por aliens que nunca, mas nunca, viram o aluno, o professor e a escola em questão uma vez que fosse. E o que faz o professor? Pensa: "Então, estou eu aqui a 300km de casa, com um horário de merda, a ganhar 557 € por mês, e para que se faça o que é moralmente correcto tenho de me debater com uma miríade de obstáculos e privar-me dos meus dias de folga para passar dias inteiros a preencher relatórios e ainda ter que aturar os pais da criança analfabeta a choramingarem que o filho precisa de tirar a carta e mais o caralho, vou mas é mandar esta merda toda às favas." O Directivo aprova, os Conselhos agradecem proque já não terão que se reunir e o aluno analfabeto conclui, com êxito, a escolaridade obrigatória. Menos um na lista da OCDE. Mais um papa-hóstia pronto não perceber patavina do que se passa à sua volta. Pois bem, meus amigos, aqui começa o cerne da questão. Por exemplo, os avós da grande maioria de nós (jovens licenciados, população activa sub-30) tem avós com a 4ª classe, certo? Mal sabem ler ou escrever, certo? Pertencem ao rebanho de Nossa Srª que o Salazar ajudou a fomentar, certo? Podem ser as melhores pessoas do mundo, podem ter o saber de experiência feito, podem contar as mais belas e enternecedoras histórias, mas são, mais coisa menos coisa, pessoas cuja apreensao do mundo é, no mínimo, redutora. Eu disse avós, porque não quis ofender. Porque, na verdade, muitos dos nossos pais são assim. Se calhar, até alguns dos amigos. Ou até mesmo nós. A verdade, e é aqui que quero chegar, é que cabe aos líderes instruir como lhes convém as massas. E as nossas estão prontinhas para, pelo menos, mais 2/3 gerações de analfabetos. Com o 9º ou o 12º anos. Mas analfabetos.

Segunda nota:

Eu tinha vergonha na puta da cara. Ontem, não sei o que me deu, estive a ver o programa da SIC-N onde eles dizem falar de futebol. O menino de recados do Benfica levou um DVD onde se vê o Rodriguez a responder, com um subtil toque (aquilo a que as crianças chama de traço: "Ó mãe, o Luis fez-me um traço e eu caí!"), a uma provocação da Maria Amélia. A Maria Amélia, como grande puta que é, terá feito o que faz qualquer covarde: provocou quando ninguém o observava e fez-se de provocado quando estava próximo do árbrito. Portanto, o menino de recados do homem dos pneus exige uma sanção para o Rodriguez. Tudo bem! Tendo em conta o que aconteceu a propósito do diabo à solta na Luz (1.500 € de multa) creio que ao Rodriguez caberia, por esta lógica, uma sanção de 0,88 €! Já com IVA.