Uma moldura sui generis...

Santuário do Sameiro – Braga
À semelhança da dicotomia amor/ódio, sempre foi bastante ténue a linha que separa o sagrado do profano, o espiritual do material...

Há quem diga que o amor move montanhas, no entanto há quem demonstre que o dinheiro move cordilheiras inteiras, ou não possuísse este uma característica divina: a omnipresença. Na verdade, o dinheiro é como Deus: está em toda a parte, desde o lugarzinho mais comum, ao local mais estranho (e peço desculpa pela comparação herética). Por exemplo, nunca percebi a razão que leva as pessoas a atirarem moedas para o fundo dos laguinhos dos santuários, onde oxidarão fatal e piedosamente, entre limos e peixinhos escarlates. Ao célebre adágio popular “dar pérolas aos porcos”, sobrepõe-se um sacro “dar moedas aos peixes”… Mas a devoção tem razões que a razão desconhece, não é verdade?

O mundo está repleto de coisas desconcertantes e, já o dizia Camões, “continuamente vemos novidades”, mas ver uma caixa Multibanco com este tipo de enquadramento é quase como ver uma vaca a voar, ou um porco a andar de bicicleta!

Agora digam-me, será esta uma combinação intolerável ou o conchavo perfeito? Blasfémia ou acompanhamento dos tempos modernos? Apelo descarado à esmola choruda ou simples facilitar da vida do devoto desprovido do “vil metal”?

3 Response to "Uma moldura sui generis..."

  1. Anónimo says:

    Tenho pena que não escrevas mais

    Dr., bastaria ter apenas uma parte do seu ritmo de escrita, mas a verdade é que não tenho:(

    Já agora, qual a sua interpretação acerca da "moldura sui generis"?

    Anónimo says:

    Pois, pois. Isso é um eufemismo para "deves pensar que têm todos a tua vida, não parolo?"

    Várias. Por um lado, quero pensar que aquilo é o admitir (metafórico?) daquele que é um dos esteios dos representantes de deus na terra: a ganância. Por outro, pode também ser um indirecta aos fieis que insistem em depositar moedas de 1, 2 e 5 cêntimos nas caixas de esmolas. Do género: "Fiel, o tempo das moedas já era. E na casa do senhor quer-se silêncio. Abandone o tilintar das moedas e deixe-se seduzir pelos encantos das notas." Não sei, digo eu!

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