Título? Pode ser este: eu que me preocupo extremamente de caralho com todos os que me apontam o caminho da felicidade



Eu gosto que me citem. Ou melhor que o citem. A ele. Que é maior do que o meu espanto. Que me lembre só peguei um bezerro desmamado pelos cornos uma vez. Mas tudo bem. Querem pisar uma jangada veloz, é o que é, uma coisa qualquer que se mexa e lhes faça fervilhar na dengosa matéria que pastosamente se arrasta nas veias, algo que se assemelhe ao sangue vivo de quem brinca descomplexadamente. Mas eles, ansiosos por discutir tudo e mais alguma coisa em lugares com assento não só para alaparem o cu, mas também os cotovelos, decidem dar um ar de graúdo moderno à cousa e aparecem sempre de pantufas nos pés. Eu muito ocupado, deito-me cedo. E, assim, não há pai nem equilíbrio possíveis. Assim, até o Petit deixa de levar amarelos. Se jogasse de pantufas, quero eu dizer. Respiro. Sento-me e se fumasse, fumaria. Imagino-me fumar. E o fumo confunde-se com o ar. E tudo fica estranhamente confuso. Logo acordo. Tudo não passou de uma mistela láctea de má qualidade, servida fora de horas, destinada à irremediável e calmante náusea. O chamado em-si. Uma dádiva intragável. Uma feijoada adoçada, cravo e canela, antes e depois da vómica, pela voz melosa dos mosquitos disfarçados de rouxinóis. Ainda no mesmo assunto, mas num outro prisma. Se há coisa que eu gostava de contar era o preciso tempo que dura uma vida. Eis que isso se torna impossível na sua mais cruel expressão. Na mais silenciosamente contida expressão que podia, até, durar apenas uns minutos: os minutos que durassem os nossos embates vitoriosos, por exemplo. E acabaria no momento em que caíssemos. De preferência amparados. O resto são os prefácios, os epílogos, as anotações e a história dos que depois disso mudam, sem que nenhum deles deixasse de ser o mesmo que antes era. Para-literatura, portanto. E de que caralho falo eu, não é? Podia estar a falar das marcas de água. Ou dos babuínos. Mas curiosamente falo das linhas de rumo. É que desde de pequeno que as faço. As coisas podem ser intermitentes, mas desde cedo que me habituei àquela puerilidade de unir os pontos e fazer figuras. Hoje, de urso. Com linhas. Com picotados. E esponja por baixo. Hoje, dedico-me à colecção de momentos opiáceos, com chás e merdas afins. Ainda assim, doem-me as costas. Os gajos em Marrocos disseram-me que isto passaria. Mas costas doem-me. E a cabeça rebenta. Tenho a imagem do belfo Sebastião vindo de terras do norte a indicar-me o caminho. O enevoado Sebastião acha por mim e por todos. Que sim e que não. Que ele tudo acha. Por baixo das pedras. Com visão extra-sensorial. Ele tudo acha. Pena que o achador, de delicado, leve e, como direi, fulminante escrever, se perca pelo sabor da sua própria especiaria. Não esqueço que é natural (e até expectável) que, à força da mistura entre o universal orgulho das nações pelos feitos dos seus filhos e a nacional-parolice sobre os descendentes de Amália e Eusébio, se puxe a brasa à sua sardinha e que, com isso, se sinta achador de tudo e mais alguma coisa. O meu problema é que tanto gosto de marés altas como de andar às conchinhas. Sou sempre a mesma criança. Amadurecida em corpo finito e cada vez mais deteriorado. O que parece ser incongruente. Que se foda! Eu, a dar uma de achador, continuo a achar que é impossível estarmos mais vivos do que isto.

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