Comparações absurdas
A comparação, usada nos mais variados contextos, é, indubitavelmente, uma figura de estilo que permite dar largas à imaginação, criar símiles eivados de originalidade, no entanto alguma dose de bom-senso nunca é dispensável. Caso contrário, da aproximação dos termos de comparação poderá surgir algo estapafúrdio, grotesco até. Ora uma das comparações mais absurdas que ouvi até hoje prende-se com a bela e surpreendente televisão portuguesa: “A SIC é como o Verão: a estação mais desejada.”
Afinal, o que é que pode ver-se na SIC? Telenovelas com fartura (quatro ou cinco, diariamente, excepto ao domingo, porque passam filmes que já nem lembram ao Menino Jesus); programas de entretenimento definhadores de neurónios (o programa Fátima, a título de exemplo, e fazendo jus ao nome, é de bradar aos céus); telejornais que prolongam desmesuradamente as suas emissões, pois noticiam factos que não interessam a ninguém; grandes reportagens que, em larga escala, são pautadas por um desprezível folclore jornalístico; séries de comédia portuguesa deprimente (o paradoxo é real)…
É verdade que passam outras coisas na SIC, completamente diferentes das anteriores: CSI, Mentes Criminosas e outras séries americanas (nunca antes da uma da manhã, note-se); Cartaz Cultural (nunca antes das duas da manhã, entenda-se) …
Uma breve pesquisa no teletexto não deixa qualquer dúvida: é a isto, talvez um pouco mais, que se resume este excelso canal televisivo que, segundo a publicidade, é como o Verão... Porém, por mais absurda que pareça tal comparação, a verdade é que faz todo o sentido! Não é que, numa patética manobra de marketing, Penim e companhia acertaram na mouche! (já agora, também vou abusar das comparações...)
A SIC é, de facto, como o Verão: provoca grandes secas.
A SIC assemelha-se ao Verão: dá vontade de sair, passear… desligar a TV e ir apanhar ar.
Verão é praia, Verão é mar! SIC também é mar: mediocridade profunda como o oceano e programação de qualidade leve com a espuma…
A SIC ataca a noite com "anedotas" repetidas centenas de vezes. Depois do Telejornal esta estação vencia com filmes a sério. A administração é tonta.
A TVI marca pontos com aquelas novelas portuguesas que até dá pena. Tantos actores e actrizes de 1ª no teatro e cinema a fazerem aquelas figuras. Trata-se de sobrevivência.
O canal que nós pagamos brincam às perguntas de escola primária. Na semana passada uma resposta 5 estrelas. A idade do sol 5 mil milhões de anos ( igual à da Terra!). Nunca mais vejo essa mentira.
Penso não formar em erro grave se disser que é um mal generalizado. O problema, a meu ver, é que a tv não é, para a maioria dos portugueses, um electrodoméstico como qualquer outro, que apenas deve estar ligado quando nos serve. A tv é, efectivamente, a companhia do grosso da população e está ligada constantemente, nem que seja para voz de fundo. Sabendo disso, os senhores da televisão, os auto-intitulados de grandes comunicadores, enchem a programação de publicidade e lixo. Merda, vá!