fontes de inspiração

anortopia

ou um ansiolítico apaziguador
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está bem, façamos de conta…

façamos de conta que o amor não é compromisso. façamos de conta que o amor não é dedicação, esforço e perseverança. façamos de conta que os meandros do amor moderno, catapultado pelo facilitismo, é que estão certos. façamos de conta que a aparente facilidade de escolha e mudança nos torna mais livres. façamos de conta que nos sentimos felizes com esta posição face ao amor. façamos de conta que não há um historial imenso de aventuras contadas e repisadas e que o amor vingou tal como nos querem fazer passar.


façamos de conta que o maio de 68 e o verão quente de 69, evoluíram positivamente e somos filhos da geração livre. façamos de conta que o amor que nos preenche agora é melhor que o anterior, e, que depois de melhorado, porque é mais fácil e rápido, nos preenche de alegria. façamos de conta que não estamos mais depressivos, mais desanimados, vazios. façamos de conta que não andamos à toa a procurar a definição do amor verdadeiro. façamos de conta que não nos suicidamos porque não entendemos o sentido da vida com esse enorme vazio no peito. façamos de conta que estamos perto do sucesso, mesmo que, passo após passo, caminhemos num chão inerte e infértil.


façamos de conta que o romantismo é lamechas. façamos de conta que a verdade, a sinceridade e a fidelidade, o compromisso, a luta por manter intacto o amor, tudo isso é antiquado. façamos de conta que o destino nos vai cair nos braços inadvertidamente enquanto estamos distraídos. façamos de conta que a internet resolverá os nossos problemas relacionais. façamos de conta que não acreditamos no amor verdadeiro e que isso só nos pode trazer problemas e desilusões. façamos de conta que estamos bem assim. façamos de conta que não vemos a toda a toda a hora a tristeza nos rostos de quem não entende o que falta na sua vida. façamos de conta que de noite, ao deitar na almofada, não ouvimos um ensurdecedor eco das nossas frustrações. façamos de conta que quando acordamos não reverbera incessantemente no interior dos ouvidos a decadência das nossas forças.


façamos de conta que não ouvimos os alertas. façamos de conta e deixemo-nos estar sentados depois de ler estas minhas palavras. façamos de conta que eu próprio ao escrever isto não sei o que digo. façamos de conta. uma vida de faz-de-conta. porque, afinal, se tudo isto não passa de uma fraca encenação, então o faz-de-conta é um bom personagem para interpretarmos em palco.


enfim, façamos de conta.

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insprirado num artigo de mário crespo, que podem ler aqui.

1 Response to "fontes de inspiração"

  1. Teté says:

    O romantismo é lamechas, não há como fazer de conta. Mas é bom, muito bom, para não fazermos de conta que vivemos...

    Os alertas deste e do artigo de Mário Crespo devem soar, para cada um os ouvir dentro de si, antes que buzinas e apitos censurem, tarde demais!

    Beijinhos!

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