fontes de inspiração

literatura fontenária do mês
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VI

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este livro parece-me ter duas questões de fundo mais vincadas na narrativa, a dificuldade de escrever a originalidade com criatividade cativadora, e o amor. parte de uma história de amor meio perdida entre a realidade e a ficção, e segue o caminho de um escritor que busca a história perfeita para o romance perfeito, sendo certo que para mim toda a energia está nessa história de amor. o autor é averso a finais felizes, sente-se permanentemente a luta por mostrar a lógica linear da vida real, em contraposição aos devaneios relapsos do personagem principal no que toca a discursos idílicos.
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tive alguma dificuldade em seleccionar algumas passagens deste livro, tamanha foi a voragem com que sublinhei frases e parágrafos. já tinha referido que o li de uma assentada numa noite daquelas em que me pareceu importante ler sem parar. em boa hora o escolhi da prateleira-lista-de-espera, pois rapidamente me apercebi de que seria fácil terminar a leitura. passei de novo os olhos pelas citações e tive a sensação de que o próprio autor teve o cuidado de fazer deste livro uma enciclopédia de boas escolhas para leitura. ao longo da narrativa, que o autor refere ter sido construída sobre textos esparsos - resultando depois neste arrumadinho romance -, podemos perceber que ler é um instrumento mais importante que escrever. em todo um livro que demorará muito tempo a ser construído, pode surgir uma frase que mudará muito do que pensamos. honra seja feita a quem escreve, publica e não se sente justamente compensado, porque "[...] a necessidade de escrever é, porém, mais imperativa; o desconforto da chuva é mais forte do que o apelo do vento. Talvez uma frase de kafka o explique: "um escritor que não escreve é um monstro que convida à loucura.[...]" (pp. 24)
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não percebemos bem o que pode ser auto-biográfico (e isto é de uma crueldade atroz com o autor - quem escreve sobre livros não deveria nunca misturar estas duas vivências distintas). a invenção do personagem que vai em viagem para áfrica, como se longe de tudo pudéssemos encontrar as histórias num continente que se percebe ser inebriante e ensandecedor a quem o visita, parece ser um íntimo desejo do autor. a fuga ao dia-a-dia acabrunhante para almejar encontrar inspiração para escrever uma vida real mais límpida, mesmo que se perceba na sua visão um realismo clarificador do curso da vida, parece ser um desejo de mimetizar os sentimentos com os lugares.
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depois de ter tomado conhecimento da insolvência da editora de manuel jorge marmelo, fico ainda mais convencido de que o autor tem razão quando diz neste livro, "[...] tal como o personagem principal no seu passeio dominical, talvez acrescentasse que sentir-me um ser humano e dar passeios me parece tão bonito como estar sentado à secretária e ter sucesso a vender livros. [...] " (pp. 85)
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para florear um pouco, acrescentaria que existe um ou outro pormenor de refinado humor nos seus textos, e ainda umas corrosivas opiniões sobre as mulheres "[...] Em todo o caso as mulheres são o que são: aparecem, insinuam-se, metem-se no coração e, em pouco tempo, tomam conta das nossas vidas. Colonizam-nos. Subvertem a nossa natureza e moldam-na de acordo com os seus caprichos. Se somos inocentes e fracos, podem transformar-nos em monstros sem coração. Se somos duros e cruéis, são capazes de domesticar-nos, reduzem-nos a quase nada. Tenho visto vários casos semelhante e foi isto que me tornou desconfiado [...] " (pp. 48). e depois há esse amor nas palavras muito próprias do autor, carregadas por vezes de pouca crença, "[...] Estou hoje convencido de que é impossível ser feliz, mesmo quando se ama muito e se é amado pela mais bela das mulheres [...]" (pp.82)
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contactei o autor, e com muita simpatia me respondeu a 3 questões, sendo que esta obra começou com um blog (cujo personagem principal passou a ser o do livro), e que os textos avulsos ganharam consistência, vindo a tornar-se neste romance. deixo o meu agradecimento publico pela simpatia do autor.
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gostaria que as minhas palavras fossem um veículo importante na divulgação das obras portuguesas, da literatura pouco reconhecida, e por isso espero que o meu contributo possa ser frutífero nessa medida. termino com uma passagem que marca um pouco esta obra, a dificuldade da definição da realidade e da ficção, onde nos meandros das palavras se confundem os misteriosos mecanismos da escrita, "[...] apesar de tudo, eu sei que M. se tem em melhor conta do que aquilo que aparenta; que tem algumas pretensões relativamente aos livros que escreveu e que gostaria de vê-los devidamente valorizados; que se lhes reconhecesse, ao menos honestidade intelectual, empenho e vontade de fazer melhor. [...]" (pp. 77) não terá este meu texto o único objectivo de reconhecer tudo isto?

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releia ( I - II - III - IV - V - VI)

3 Response to "fontes de inspiração"

  1. Teté says:

    Bom, não fiquei muito entusiasmada com o lívro! Aliás, livro para mim não tem nacionalidade, pertence ao mundo... mesmo que diferente daquele que conhecemos!

    Essa frase sobre as mulheres parece-me um exemplo típico de imaturidade. Esse pessimismo sobre a vida, coisa de velho muito jarreta. E óbvio que todo o escritor procura o reconhecimento da sua obra e respectiva valorização (este autor não será excepção).

    Quanto a simpatia, pois, não são muitos os escritores simpáticos (há-os até bem antipáticos), mas também não é por aí que o livro se valoriza!

    Enfim, com tantos em fila-de-espera, alguns certamente ficam para trás!

    Beijocas!

    S. G. says:

    olá teté,

    espero não ter sido culpado dessa falta de entusiasmo pelo livro, até porque dizes ter ficado assim nesse estado, pelas citações que fiz. parece-me que as citações estão impregnadas de ironia.

    contudo a verdade é que a lista sendo grande e o tempo escasso, só nos podemos resignar e ler o que nos apetece.

    obrigado pelas tuas palavras.

    Teté says:

    Culpa nenhuma, S.G.!

    Nem do autor, nem das citações! Mas num estado pior que estragado, por ter lido o último do Zafón - que escreve muitíssimo bem, é bom dizê-lo! - que desta vez resolveu amalgamar vários estilos literários, no que resultou... nem sei o quê!

    Enfim, culpa minha, que gosto de entender o que leio... ;)

    Jinho!

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