vagamente: gostava de vos contar coisas bonitas

como em tudo. nada é rasante ao solo. na minha vida, quero dizer. conto com os dedos de uma mão as coisas verdadeiramente nítidas que me terão acontecido. o meu erro, penso, é complicar em demasia. a vida exige-nos que saibamos sempre o que fazer. e essa merda custa. como se fossemos obrigados a viver sempre em antecipação. obrigados a saber o que vai acontecer antes de sequer ter acontecido. e por isso tomamos decisões. e as boas têm a amplitude necessária ao nosso peito farto. e cá vou, neste autismo obstinado. para ser delicado. comigo próprio. como convém. e tudo é ofegante precipitação para o fim. ânsia sem demoras. a selecção possível faz-se. vai-se fazendo. supondo sempre o que nos terá ficado na sombra. o que nos foi escondido. ou que acabamos por esconder. que é também importante. o mais importante, até. e há em mim uma certa reserva em relação a quem não sabe sentir isto.

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