fontes de inspiração

à conversa com a ana
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(a nossa autora do mês respondeu positivamente ao nosso desafio. respondeu a umas questões com a mesma simpatia de sempre. aqui fica a crónica de sábado, com o atraso justificado pela qualidade das respostas)

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Fontes - Uma lisboeta em braga. Qual a tua visão sobre braga?
Ana - Primeiro, era só cinzento e a música melancólica dos sinos. Um primeiro ano de agonia e de espera. A seguir, o lugar estranho do amor. Depois, foi sendo a minha segunda cidade, com os seus defeitos e as suas virtudes, com as pessoas de que já não posso nem quero abdicar e que fazem parte da minha vida, onde me sinto recebida como se estivesse em casa.

Fontes - Quando escreves,é mais inspiração ou transpiração?
Ana -
Julgo que só inspiração, embora a inspiração seja das coisas mais trabalhosas que conheço.

Fontes - Como sentes quais os temas importantes para tratar na poesia?
Ana -
Os estudos literários tematológicos resumem tudo em amor e morte. Até agora, são essas as minhas obsessões.

Fontes - Quando surgiu a ideia de publicar?
Ana - Numa conversa emocional dentro de um carro estacionado em frente ao mar a beber um pacote de leite com chocolate. Na altura, precisava de uma prova de fogo, de me espalhar na invisibilidade do vento para que alguém que tivesse de me ouvir, me ouvisse. A 'Fábula da Solidão' explica um pouco melhor isto que não estou a conseguir dizer.

Fontes - Qual o caminho que queres percorrer na escrita, ou o legado que queres deixar?
Ana -
Não tenho envergadura poética nem intelectual para deixar legados, nem mesmo vontade que isso aconteça no sentido de entrar num cânone, seja ele qual for, mais ou menos conhecido. É até absurdo pensar nesses termos. O meu legado fica só com as pessoas com quem me cruzei afectivamente, saiba eu ou não desse encontro. O sangue que recebi à nascença corre também nas veias dos meus amigos, que é o mais importante para mim. O caminho da escrita é esse trilho de sangue.Quando deixar de unir para passar a desunir, é porque será chegada a hora do silêncio se ocupar de todas as palavras.

Fontes - Qual a importância da crítica para ti?
Ana -
Eu gosto de ler um bom ensaio, uma opinião bem formada, uma resenha, o que seja, que me ponha em contacto com outra perspectiva de uma obra que li ou que me forneça pistas que me façam querer ler um livro que, de outra forma, me poderia passar ao lado. A crítica literária, que passa muito por ser um discurso indirecto com o interveniente comum ao do discurso directo - o leitor -, pode ser uma paixão tão forte como a própria criação literária. Esta viveria sem a outra. Mas essa outra não viveria sem a primeira. Só tendo consciência disto é que se pode estabelecer uma relação salutar entre ambas, corajosa, em vida do autor ou da autora, e absolutamente necessária, na morte.

Fontes - Dedica um poema teu aos nossos leitores.
Ana - Dedico o primeiro verso com que abro o primeiro livro - eu conheço a poesia pelo cheiro -, pois espero que todos nós, enquanto humanos, a reconheçamos tanto no mais pequeno como no mais grandioso momento das nossas vidas. Ela está lá, sempre.

Obrigado Ana.

7 Response to "fontes de inspiração"

  1. Anónimo says:

    "pequena luz dentro do prodígio" - Daniel Faria

    é assim esta menina.

    obrigada, aos dois, meninos-anjo*

    deixam-me assim meio sem pio. eh eh
    :)

    [um aparte: as palavras de verificação para que este comentário seja submetido são: «comic». isto, isto é poesia. eh eh]

    beijos às riscas

    as letras, aliás. shmff.

    S. G. says:

    :) boa doutor. eu bem digo que entre vós eu estou melhor calado.

    ana um beijinho e obrigado pelas respostas.

    A Ana tal como é... eterna novidade numa essência genuína e imutável...

    O paradoxo perfeito, só possível à luz do prodígio ;)

    Teté says:

    Só tenho algo a acrescentar: devias ter dado o nome completo da entrevistada. Andei aqui a ver se descobria o apelido dela, no livro mal se nota, se não fosse o comentário dela... ;)

    A entrevista está óptima! :)

    Beijinhos!

    S. G. says:

    :)

    pois. foi um erro meu. espero redimir isso nas próximas duas crónicas também dedicadas à menina.

    obrigado pelo teu comentário

    beijinhos

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