fontes de inspiração

literatura fontenária do mês
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V
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falar sobre uma obra de poesia completa ou quase completa, parece à partida difícil, mas não é. não é porque não sou perito na matéria, não é difícil porque não faço análises eruditas, não é tarefa árdua porque isto não é uma crítica literária, no fundo, e em suma, resume-se a uma definição básica, ou se gosta ou não se gosta (o que, já de si parecendo simples, não o é).
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estamos na presença de uma obra cuja edição da cosmorama abrilhanta pelo cuidado estético com que é apresentada (aliás é política da editora esse trabalho meticuloso). estão coligidos aqui nove livros (incluindo a obra "bruno" editado em espanha numa edição bilingue, e algo difícil de encontrar por cá). depois acresce outro aspecto que dá maior importância a esta edição, o facto evidente de que a maioria dos títulos do autor publicados na quasi edições estarem esgotados. (desconheço se por quezílias públicas, se por outro motivo alheio à minha compreensão). refira-se também que faltam nesta antologia pelo menos dois livros publicados pelo autor. "estou escondido na cor amarga do fim da tarde" (campo das letras) - obra esta que tenho e li; e ainda a mais antiga de todas cujo título e editora me escapam por completo. são renegadas pelo autor por terem sido escritas numa fase muito prematura da sua evolução como poeta, denotando-se à distância uma diferença qualitativa em relação ao que foi editado posteriormente. compreende-se. até pelas palavras que se encontram na nota do autor neste livro, " [...] porque não conservo senão uma vontade de futuro, uma necessidade de continuar fazendo, mais do que me deixar fascinar ou sequer convencer pelo que já fiz. [...]". há sempre omnipresente esse trabalho se sapa em todos os poetas, a necessidade da procura da perfeição e decepação das palavras e versos a mais, " [...] e, se pudesse, haveria de os reescrever e redizer um a um, verso a verso, até à náusea, para os aproximar sempre daquilo que sou hoje e daquilo que quero hoje. [...]".
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estou convencido de que é possível ler quase tudo o que se faz na poesia, e só então nos decidirmos pelo nosso gosto e estilo. esta obra mostra que pode haver correntes e caminhos completamente diferentes dentro de cada autor. parece-me ser uma obra obrigatória para os amantes da literatura e da poesia em particular, onde se podem apreciar algumas surpresas agradáveis, ao mesmo que tempo que se pode ir bebendo estas palavras no ritmo e tempo que acharmos mais conveniente.
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é esse o segredo para apreciar a poesia, ler como um processo de comunicação externa em que o autor, leitor e texto se confundem, e mesmo sendo entidades independentes, essa mescla em que se tornam mostra a absoluta indefinibilidade dos limites de cada um.
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deixo-vos um trecho do poema "uma língua para a solidão e para a perplexidade" da obra "pornografia erudita", uma citação que é a prova de que o romantismo é possível (o eterno melómano da sonoridade poética), mesmo que só em palavras,
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" [...] vou amar-te eternamente
se a perplexidade puder ser uma forma de amor. procura
em mim uma possibilidade de comunicação. procura-me.
se não te ouvir toca-me, tu tão bela, e espera quanto
for preciso. hei-de manifestar-me, mesmo que apenas
para lembrar que o teu amor é também a minha
mais certeira morte e o caminho para lá chegar
seja a invenção de algo tão preciso como uma
palavra nunca proferida." (pp. 68)
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post scriptum, não podia deixar de dizer que foi com um enorme prazer que ontem conheci pessoalmente os ilustres companheiros deste blog.
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releia ( I - II - III - IV - V)

4 Response to "fontes de inspiração"

  1. Anónimo says:

    o mais espectacular já conhecias

    gaba-te cesto...

    S.G, same here :)

    S. G. says:

    :)

    abraço amigos

    Teté says:

    Nunca li nada deste poeta!

    De qualquer forma, concordo que a poesia tem de ser lida a um ritmo próprio, diferente de um livro, porque são fios de meadas diferentes...

    Beijocas!

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