fontes de inspiração

as cidades e as terras
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VI

madrid
polaroids monocromáticas
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[ruas]
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nas ruas principais, como é o caso da gran via, pulsa uma corrente viva que não quebra, uma diluída azáfama cosmopolita que nunca se acalma, teimando em altas horas da madrugada em mostrar-nos que as grandes cidades têm uma vida própria. é como se, sem esta gente nas ruas, outra forma de correria endiabrada se apoderaria do seu fluxo sanguíneo. e as luzes da noite, quase sempre aciduladas pelos néons publicitários, são puros delírios visuais, que muito dificilmente se definiriam em palavras.
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[ruelas]
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no interior das artérias - não muito longe das ruas principais - os bairros grafitados, onde as diferenças sociais chocam a paisagem, é mais fácil encontrarmos as histórias rocambolescas e as incríveis maquinações do destino. aqui as minorias estão na sua vida como peixe na água. o chinês nas suas loja de conveniência, labuta numa esquina escura, sempre com um ar desconfiado; o sul-americano (normalmente peruano) transporta um carrinho de mão carregado de cerveja e vinhos, entre o armazém perdido num beco e o restaurante;e o espanhol normalmente antipático, desespera pela hora do fecho para fugir.
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[ruas - 2]
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na rua onde nos instalamos, coabitam os extremos sociais. um restaurante de luxo tem sempre à porta duas ou três prostitutas e um travesti. uma loja de roupa e calçado requintado, fica paredes meias com as casas onde o sexo é cobrado sem impostos.
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[metro]
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estação de metro goya - serigrafias com desenho populares do autor repartem a atenção dos turistas com os relógios em decrescente contagem. parei a apreciar os temas. lutas do povo. retive mais tarde em visita ao museu do prado, a obra inexplicada e tenebrosa da sua fase negra. aqui a arte espanta pela exposição e destaque que tem. e quando entras na carruagem do metro, vendo que quase todas as cabeças pendem sobre os livros, percebemos o porquê.
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[ruas - 3]
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depois vem a noite. atravessamos a correr a praça de espanha. sem motivo, não temos pressa. parámos junto do multibanco, saltando à vista mais um motivo para pintar um retrato desta cidade. lado a lado o símbolo do capitalismo e o da miséria, os dois lados da mesma moeda. indiferentes, dezenas de pessoas levantam as notas de 500 euros, mesmo junto a dois mendigos que dormem protegidos do frio por jornais e um saco-cama. é um casal - que igualmente indiferente - descansa de mão dada.
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[metro - 2]
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acendem-se os cigarros e os vendedores ambulantes estacionam nas saídas do metro. por ali toda a gente se encontra para um botellón. corremos o risco de nos perdermos de amores por uma vida assim. quem passou pela universidade sabe. e no mínimo recorta do peito uma ou outra lembrança saudosa. não que me impressione ou me lamurie com o bom passado. nem me impressionam estas acrobacias sociais. a vida desta forma sente-se a dobrar e parece que te imortalizas nos flashes do convívio inter-cultural. não há contudo espaço para pintar todo o quadro monocromático da noite.
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releia ( I - II - III- IV - V - VI)
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